Sábado, 18 Maio

Sofia Bost traz a Vila do Conde um tremendo “Dia de Festa”

Dia de Festa está na Competição Nacional do Curtas Vila do Conde

Depois de ser exibida na Semana da Crítica do Festival de Cannes, Sofia Bost trouxe até ao Curtas Vila do Conde o seu Dia de Festa, projeto protagonizado por Rita Martins no papel de uma mulher, Mena, que prepara o aniversário da sua filha, Clara. É o regresso da cineasta a Vila da Conde depois de Swallows ter sido selecionada para a competição Take One! da edição de 2015.

Logo nos primeiros momentos deste Dia de Festa vemos que a relação de Mena com a vida é complicada. Mãe solteira, que não se dá com o marido (ainda bem que ele nem sequer está presente), também tem problemas de relacionamento com os pais. No meio disto está Clara, a filha, ocultada dos problemas da mãe e da ausência do pai e avós.

Se há muitas curtas metragens enfiadas no corpo de longas, por aqui sente-se o inverso. As poucas respostas que o filme entrega (razões do afastamento do pai de Clara, dos próprios pais por parte de Mena, como foi ela parar ali onde vive e porque não conhece quase ninguém?) poderiam ser preenchidas e transformadas facilmente numa longa metragem. Simultaneamente, essa ausência de explicações – chamando a mente do espectador a preencher os espaços – enriquece de tal maneira a obra que a transforma numa das melhores presentes na competição nacional do certame.

Na apresentação do filme no Festival, Sofia Bost explicou como nasceu o filme, apontando ao argumento escrito por Tiago Bastos Capitão a principal responsabilidade pelo seu envolvimento na produção: “Quando terminei a escola de cinema, ele [Tiago] apresentou-me o argumento de O Dia de Festa. Gostei muito da personagem principal, gostei muito da construção dramática do argumento, tinha um final forte que é principalmente dificil de fazer numa curta e por isso achei que seria um bom primeiro projeto profissional para mim. A partir daí fui à procura de uma produtora e contactei a Filipa Reis e o João Miller Guerra. Eles gostaram muito do projeto e decidiram avançar com uma candidatura a ICA“.

Um argumento cumprido a 95%


Sofia Bost na apresentação do filme

O argumento estava escrito e – com alguma liberdade de adaptação dos diálogos – usamos 95% dele. Em relação aos enquadramentos e o facto de ser um filme bastante preciso e fixo, tudo foi planeado antes da rodagem, em storyboards mesmo. Não houve assim tanta improvisação. Mas também pensei nisso, porque queria dar liberdade aos atores dentro dos enquadramentos, a partir do guião terem liberdade de fazer o que entendessem sem que eu estivesse a controlar os gestos, o tom de voz, o que seja“.

A “enorme” Rita Martins…

Um dos elos mais fortes deste bem balançado (argumento, realização, atuações) de Dia de Festa é a atriz Rita Martins, que assume o papel da problemática e ambígua Mena. Em conversa no final da sessão do filme em Vila do Conde, a atriz admite que trabalhar com Sofia Bost foi bastante fácil e “intuitivo”: “Há pessoas com quem imediatamente criamos algumas ligações e que nos dão um certo à vontade e bastante espaço para podermos experimentar. E [este trabalho] foi uma coisa que fluiu. A minha ideia inicial [sobre a Mena] estava muito de encontro ao que a Sofia queria.

Rita acrescentou ainda que as coisas estavam todas preparadas antes das filmagens e que apenas foram feitos alguns ajustes durante elas: “Fizemos alguns ensaios, tínhamos as coisas pensadas em como poderiam acontecer e tivemos outras que foram mudadas. Ensaiamos de uma forma e percebemos que se calhar a intenção era outra. Se calhar podíamos alterar aquilo. Houve essa liberdade de ir fazendo. As coisas já estavam todas construídas, mas havia a minha liberdade de criar a personagem e de ir a encontro do que a Sofia estava à procura.

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