Sexta-feira, 29 Março

O “chico espertismo” de Adam McKay chega à Amazon

Não temos o significado de subprime a ser explicado por Margot Robbie enquanto desfruta de um banho de espuma e um copo de champanhe, mas na nova série da Amazon sobre a economia, O Monstro Gigante que é a Economia Global, idealizada pelo cineasta Adam Mckay, diversos atores responderam ao apelo para nos explicarem – como se tivéssemos cinco anos – alguns termos e conceitos económicos que comandam os tempos que correm.

Kal Penn, de Harold & Kumar Go To White Castle e da série Dr. House, antigo funcionário da Casa Branca nos tempos de Barack Obama, é o nosso anfitrião, uma espécie de Anthony Bourdain ou Louis Theroux a viajar pelo mundo (Chipre, República Checa, espanha, Hong Kong, EUA, etc) enquanto se senta e conversa com diversos especialistas sobre as várias fragilidades do sistema financeiro, mas também as vantagens, do sistema capitalista. A esses “especialistas” (por vezes não o são completamente e chamam-se os produtores da série?!) juntam-se alguns atores conhecidos do público, como Rob Corddry, Ed Helms, Zach Galifianakis, Ted Danson, Jason Sudeikis e Colin Hanks para através de sketchs, como o de Robbie em A Queda de Wall Street, nos simplificarem os conceitos e mostrarem rumos e cenários para o futuro do monstro que é a economia global.

Em toda esta viagem de oito episódios, assinados a meias por David Laven, que vem da Viceland, e por Lee Farber (The Soup), um misto de sarcasmo, alienação, condescendência e sentido de inevitabilidade confluem para abordarmos temas como a lavagem de dinheiro, a Inteligência Artificial aplicada aos negócios, a crise de determinadas matérias primas, o dinheiro (do velho papel, ao ouro, às moedas virtuais), a contrafação, o negócio da morte, a corrupção e até a importância (ou não) de ser um sacana no mundo dos negócios.

O resultado final é um trabalho informativo, que nos instiga a descobrir mais sobre os temas, e que até frequentemente questiona moralmente os tópicos abordados, mas existe igualmente, e por demasiadas vezes, uma apresentação desconcertada, apressada e superficial da matéria.

E embora nunca haja o sentimento de tempo perdido, ou de aborrecimento a partir do exagero da típica “chico-espertice” que Mckay gosta de implantar no seu cinema (a A Queda de Wall Street junte-se Vice e até Succession), é também verdade que ficamos quase sempre com a sensação que tudo poderia ter sido investigado mais a fundo, para além do mero resumo de “economia para totós”.

Talvez o facto de termos um comediante com extrema humildade a comandar as operações ajude a tornar este num projeto menos arrogante e pretensioso que as obras cinéfilas do autor, mas essa vantagem de Penn também pode ser um problema pela infantilização de alguns momentos que certamente contribuem para nos alienarmos de alguns dos problemas retratados.

Ainda assim, O Monstro Gigante que é a Economia Global merece uma olhadela, com particular destaque para o episódio sobre Inteligência Artificial, onde entramos por caminhos do pensamento de enxame e como isso irá colocar diversos problemas morais nas decisões que as máquinas terão de tomar no futuro.

Exemplo? Se tivermos de programar um carro para ele conduzir sozinho (como Google e Uber já o fazem), que decisão vamos estabelecer que o carro tenha se ele for confrontado com a inevitabilidade de num acidente ter de optar por atropelar uma pessoa ou outra?

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