Terça-feira, 16 Abril

«The Alienist»: Bons cenários não fazem séries competentes!

Baseada na obra homónima de Caleb Carr, publicada em 1994, The Alienist é um drama policial que tem como cenário as ruas de Nova Iorque em 1896. Segue as aventuras do Dr. Lazlo Kreizle, que usa técnicas inovadoras de psiquiatria e de ciência forense na perseguição de um serial killer.

Kreizler, interpretado por Daniel Brühl é um alienista. Foram assim designados os primeiros psiquiatras que acreditavam que os doentes mentais, incluindo os criminosos, estavam “alienados” da sua natureza. O Dr. Lazlo é convocado pelo comissário da polícia, Theodore Roosevelt (Brian Geraghty) para tutelar uma investigação: pelas ruas de Manhattan aparecem cadáveres mutilados de jovens prostitutos. Esta investigação depressa se transforma num perigoso jogo pois o negócio do sexo envolve homens poderosos.

Para o ajudar, Kreizler recruta um ilustrador do New York Times, John Moore (Luke Evans) e Sara Howard (Dakota Fanning), uma secretária da polícia cujas ambições passam por ser tornar numa detetive. Fazem ainda parte da equipa, dois detetives, os irmãos Marcus (Douglas Smith) e Lucius Isaacson (Matthew Shear). Estes dois jovens são pioneiros no uso da ciência ao serviço da pesquisa criminal. Os cinco formam uma espécie de equipa de elite do século XIX que usa técnicas de psicologia criminal a técnicas tão novas como a recolha de impressões digitais.

 

Fruto do imaginário e realidade novecentista e mais do que um policial, The Alienist tem, na verdade, como tema central a exploração de crianças pobres, crianças estas que eram abusadas e tratadas como um produto. Provavelmente, o crime mais convincente da série está à vista: a exploração de crianças pobres, que são consideradas objetos precisamente por causa da forma como são exploradas. Num episódio e nas palavras de um agente da polícia uma das vítimas é denominada como “isto”, porque “o que mais se pode chamar a um degenerado que se veste como uma menina para dar prazer aos homens adultos?”.

As vítimas dos crimes hediondos deste drama são jovens que se prostituem e vestem como mulheres. Alguns porque são homossexuais, outros porque querem dinheiro, outros porque são vendidos pelas famílias. O facto de que estes assuntos: o trabalho sexual, a exploração de crianças, o status dessas crianças a que hoje chamamos de transgénero exigiram aos autores e realizadores da série uma abordagem hábil mas não inteiramente alcançada. É que estes temas sensíveis em The Alienist são analisados com a mesma sutileza como se de um intruso indesejável se tratasse.

A série dá atenção aos detalhes e dá ao espectador uma imagem interessante da vida numa cidade em que riqueza e pobreza chocante interagem de forma promiscua. As personagens circulam por ambientes luxuosamente decorados. Homens e mulheres aparecem vestidos de forma elaborada e ostensiva, jantares e festas são envoltos num rococó competente. Era necessário que tudo o resto tivesse este tipo de detalhe.

The Alienist está longe de ser perfeita ou realista. A cidade é um bom e bem recreado cenário mas não consegue o feito de The Knick: o de contar uma história que coloca as personagens entre o passado e o futuro, entre o mistério vitoriano e os desafios da ciência moderna.

Se esta adaptação à televisão tivesse acontecido há mais tempo, talvez o resultado tivesse sido melhor. Infelizmente para o TNT, o romantismo criminal em contexto histórico já foi cenário de importantes séries como, a já mencionada, The Knick, Boardwalk Empire, Peaky Blinders e obviamente, Penny Dreadfull, que abordou e bem as paixões doentias e as obsessões psicológicas e médicas da época. Caros leitores, The Alienist é a típica série cliché que não acrescenta nem conta nada de novo ao espectador. É para ver quando não tivemos nada mais interessante para fazer ou ver.

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