Quinta-feira, 28 Março

«Liar»: uma minissérie destruída pela previsibilidade

Como Anna Bates, a «empregada da senhora» em «Downton Abbey», Joanne Froggatt já tinha lidado com a complicada temática do abuso sexual. Esta estadia em Yorkshire deu à atriz uma boa base para o seu papel em «Liar», uma minissérie britânica co-produzida pela SundanceTV e  ITV constituída por seis partes. Joanne Froggatt  interpreta Laura, uma professora do ensino secundário que têm um encontro com o encantador e bonito médico, Andrew (Ioan Gruffudd), e acorda na manhã seguinte convencida de que foi violada. Ele nega, de forma convincente, e os suspeitos do costume – álcool, medicamentos e passado são usados contra Laura. A nós espectadores, resta a dúvida: qual dos dois mente?

Criada e escrita pelos irmãos Harry e Jack Williams – a quem devemos a maravilhosa «The Missing» – «Liar» apresenta-se (na teoria) como inteligente, elegante e pretende obrigar o espectador a duvidar das suas ideias ou teorias. Tem uma banda sonora intensa mas não invasiva e cenários dramáticos, escolhidos a dedo, como por exemplo o uso dos pântanos serpentiformes (filmados perto de Tollesbury, em Essex), onde Laura pratica kayak e divaga na sua intrincada geometria azul e verde servindo-se do espaço como refúgio e como um complemento das convoluções da história.

Liar tem uma aura de televisão em direto, a forma como o passado e o presente são abordados é feita e editada de forma competente.

Filmada num cenário situada à beira-mar, na pitoresca cidade de Deal, em Kent – lembra instintivamente outra série dramática se sucesso, «Broadchurch», cuja última temporada também aborda uma violação.

Mas Liar fica muitos degraus abaixo de  «Broadchurch», sobretudo no que ao argumento diz respeito. Mas também a nível da interpretação tem imperfeições. Enquanto que Joanne Froggatt consegue provocar uma variedade de emoções, que vão da empatia à embirração (sobretudo quando lida com outras personagens) mas o sexy Gruffudd não é tão competente como desejado.

Mas, não há milagres. Quando as reviravoltas acontecem em catadupa são poucos os atores que conseguem superar os monólogos densos e confessionais, que muitas vezes se contradizem com aquilo que foi dito nos episódios anteriores. E as histórias menores dentro da narrativa maior,  não ajudam em nada o enredo.

Merece crédito a forma como a questão da violação é abordada. Todos os episódio de «Liar» foram produzidos com o conselho e apoio de três organizações diferentes: Rape Crisis South London, Surrey & Sussex; Mountain Healthcare Limited e Sunflower Sexual Assault Referral Centre.

No final, «Liar» não é a série que esperávamos ver nos dois primeiros episódios sobretudo porque se autodestrói nos episódios seguintes. «Liar» tinha imenso potencial mas os resultados são pobres. Um começo forte que termina com uma conclusão dececionante.

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