Quarta-feira, 1 Maio

C7TV: recomendações de 25 a 27 de agosto

O fim de semana está quase a chegar. O calor convida a umas belas idas à praia. A quarta jornada da Liga Portuguesa promete bons jogos de futebol. O tempo está perfeito para sair, seja com a namorada, a esposa, os filhos, o cão, ou sozinho. Mas aquilo que nos traz aqui é o cinema, em particular, os filmes que são transmitidos na televisão, ou seja, aqueles que podem visionar no conforto do lar, seja quando estão sozinhos, ou em boa companhia. Já sabem o que estão a pensar ver nos dias 26 e 27 de agosto? Ainda estão indecisos? Então aproveitem este breve texto sobre alguns dos destaques. Prometemos uma viagem por Itália em plena II Guerra Mundial, ou uma ida à crise do sector imobiliária dos EUA, ou a participação numa estranha epopeia para travar um enterro, sempre através dos filmes.

A primeira recomendação é exibida na noite de sexta-feira para sábado, nomeadamente, “O Intendente Sansho” (Sanshô dayû), um poderoso drama, daqueles de nos deixar de coração partido, emocionalmente arrasados e a precisar de recuperar. Diga-se que poucas obras são capazes de nos deixar um peso na alma como “O Intendente Sansho“. Um filme magnífico, duro na forma como nos desarma com uma história de sofrimento humano exposto de forma bem real, num Japão medieval onde encontramos elementos tão típicos deste cineasta. Kenji Mizoguchi evidencia preocupações sociais em várias das suas obras cinematográficas, tais como ” As Irmãs de Gion“, “Contos da Lua Vaga“, “O Conto dos Crisântemos Tardios “, entre outras. Algo que também fica bem expresso em “Sanshô dayû”, no qual são abordados assuntos relacionados com a estratificação social, a pobreza, o papel precário da mulher na sociedade, os abusos dos políticos, entre outros exemplos.

O enredo desenrola-se durante e depois do período Heian, no Japão, com Kenji Mizoguchi a utilizar os intertítulos como um aperitivo, ou estes não anunciassem que a história de “O Intendente Sansho” decorre num “período onde os humanos ainda não tinham despertado como seres humanos“. Nos momentos iniciais do filme, o pai de Zushio e Anju (dois dos personagens principais), um vice-governador de Mutsu, é banido do território, nomeadamente, para Tsukushi. Tamaki (Kinuyo Tanaka), a esposa do governador, e os filhos do casal, os já referidos Zushio e Anju, também são obrigados a partir, com o quarteto a separar-se. Mais tarde, Tamaki, Zushio e Anju são alvo de uma armadilha, com a primeira a ser vendida como cortesã, enquanto que as duas crianças são transportadas para Tango, tendo sido vendidos para Sansho (Eitaro Shindo), o Bailio, um indivíduo que apresenta uma postura desumana para com os escravos. É um momento definidor para estes personagens, com “O Intendente Sansho” a destroçar uma família e a arrasar-nos emocionalmente, deleitar-nos com as suas imagens em movimento. A certa altura podemos ouvir a questão “Esta Vida não é uma tortura?“. Para muitos dos personagens do filme, a vida não é a mais sorridente, mas feliz é o espectador que pode ficar diante desta magnífica obra que se apodera da nossa existência e deixa uma marca que dificilmente desaparece.

Vencedor do Leão de Prata na edição de 1954 do Festival de Veneza, “O Intendente Sansho” é exibido a 25 de agosto às 23h na RTP 2.

O segundo grande destaque é exibido na nossa boa RTP Memória, uma estação incansável na recuperação das memórias televisivas e cinéfilas. Nesse sentido, não poderíamos deixar de destacar “Um Dia Inesquecível“, um drama realizado por Ettore Scola. O filme estreou na edição de 1977 do Festival de Cannes, tendo conquistado um lugar na História, granjeado uma quantidade assinalável de elogios. Sensível, delicado, pontuado por algumas doses de humor e um humanismo latente, “Um Dia Inesquecível” mexe de forma certeira com as nossas emoções, enquanto aborda o contexto histórico com eficácia. Os protagonistas Marcello Mastroianni e Sophia Loren deixam-nos alguns momentos inesquecíveis, colocando-nos diante de uma série de acontecimentos marcantes que decorrem ao longo de um dia que se torna muito especial para a dupla principal desta obra.

O dia em que Antonietta (Sophia Loren) e Gabriele (Marcello Mastroianni) travam conhecimento coincide com a visita de Adolf Hitler a Benito Mussollini, em Roma (a 8 de maio de 1938), ou seja, durante a II Guerra Mundial, com o contexto histórico a influenciar e muito a vida dos protagonistas, dois personagens atormentados quer pela solidão, quer pela incompreensão daqueles que os rodeiam. Quase tudo e todos se mobilizam para estarem presentes na parada em honra de Adolf Hitler, um evento que reforça a aliança entre Itália e Alemanha, embora alguns personagens não se desloquem ao local, tais como Gabriele e Antonietta. É exatamente a partir de Gabriele e Antonietta e deste dia histórico que Ettore Scola aborda temáticas relacionadas com o fascismo, o machismo, o papel da mulher na sociedade, a intolerância, a homofobia, sempre sem descurar o desenvolvimento da ligação que une de forma efémera os personagens interpretados por Marcello Mastroianni e Sophia Loren.

Um Dia Inesquecível” é exibido a 26 de agosto, às 15h00 na RTP Memória.

Outro destaque do fim de semana na RTP Memória é “Filhos da Noite” (They Live by Night), que nos transporta para os EUA em plena “Grande Depressão“, enquanto nos coloca diante de um casal em fuga destinado à perdição. No interior de “Filhos da Noite” encontramos ingredientes dos filmes noir e de assalto, bem como dos romances, uma combinação que reforça a sensação de que a relação de Bowie (Farley Granger) e Keechie (Cathy O’Donnell), a dupla de protagonistas, está condenada à perdição ou a conhecer um lado pouco benevolente do destino. Ele é um evadido da prisão e ela, uma jovem com um passado nem sempre feliz. Ambos parecem complementar-se na perfeição, embora, essas ditas características noir inseridas em “Filhos da Noite” já deixem antever as dificuldades que o casal vai conhecer.

Diga-se que não faltam tais elementos em “Filhos da Noite“, o noir é um subgénero querido a Nicholas Ray, tal comprova em obras como “Cega Paixão” (On a Dangerous Ground) e “Matar ou Não Matar” (In a Lonely Place). Note-se os personagens de moral ambígua, a insegurança, a atmosfera malaise, as figuras fumadoras, o romance destinado ao fracasso, a presença do clube noturno, entre outras características no qual podemos associar aos noir e que estão entranhados nesta primeira longa-metragem de Nicholas Ray. Não podemos deixar ainda de realçar os assuntos ligados à juventude inquieta (ah, como esquecer “Fúria de Viver“), as relações turbulentas ou que florescem no interior de um contexto conturbado, bem como um enorme humanismo na abordagem das temáticas, os personagens dotados de dimensão e a voz dada aos elementos algo à margem (recordemos alguns dos filmes mencionados, ou outros como “O Crime Não Compensa“), ou seja, ingredientes pontuados em “Filhos da Noite” e que aparecem em diversos trabalhos deste magnífico cineasta.

Filhos da Noite” é exibido a 27 de agosto, às 15h00, na já mencionada RTP Memória.

Ah, lá está este tipo a ser elitista e a deixar de lado os filmes mais recentes. Depois de me ter vergastado pelas últimas opções, decidi aproveitar os destaques do TV Cine e Séries para abordar algumas obras que foram exibidas recentemente nas salas de cinema. Nesse sentido, os canais TV Cine e Séries contam com algumas obras cinematográficas bastante recomendáveis como “Capitão Fantástico” (Captain Fantastic), “Animais Noturnos” (Nocturnal Animals) e “99 Casas” (99 Homes). Existem muitos mais filmes recomendáveis nos canais TV Cine e Séries (“Rambo”, “Rambo”, “Rambo“), mas neste fim de semana vamos manter o foco nas obras mencionadas.

Comecemos por “Animais Noturnos“, a segunda longa-metragem de Tom Ford que teve a sua estreia na edição de 2016 do Festival de Veneza. O elenco é de grande nível, com nomes como Jake Gyllenhaal, Amy Adams e Michael Shannon a figurarem na ficha, embora uma das maiores surpresas seja mesmo Aaron Taylor-Johnson como um delinquente perturbador que marca de forma indelével o enredo. Também a chegada do manuscrito de um livro escrito por Edward Sheffield (Jake Gyllenhaal), o ex-marido de Susan Morrow (Amy Adams), promete marcar a vida desta mulher, com a protagonista de “Nocturnal Animals” a sentir-se compelida a refletir sobre o seu passado e o seu presente, enquanto se embrenha pela intensa história da obra literária. É entre o presente, o passado e a história do livro escrito por Edward Sheffield que se desenrola o enredo.

Em “Nocturnal Animals” confirma-se os excelentes apontamentos deixados por Tom Ford em “A Single Man” não foram obra do acaso. O estilo e a substância são os seus enormes aliados, com Tom Ford e a sua equipa a criarem uma atmosfera que tanto tem de inebriante como de inquietante, ou não estivéssemos diante de um thriller psicológico onde a violência emocional é muitas das vezes sentida e cuja vinganças traz os resultados mais inesperados ou refletem o virar de uma página negra de alguém que se sentiu traído. É uma vingança que emerge da solidão e desesperança, que surge praticamente como símbolo do findar de um amor que se quebrou de forma dolorosa, com “Nocturnal Animals” a contar com uma atmosfera malaise muito típica noir.

O filme recebeu notas distintas de Hugo Gomes e André Gonçalves, dois dos nossos críticos de serviço. Hugo Gomes atribuiu três estrelas e meia a “Animais Noturnos“, tendo salientado que Ele constrói um filme de camadas, como já havia sido referido, e a gosto, coloca o seu “quê” de sugestão. O final inesperado que atraiçoa o espectador e a catch phrase, “um romancista escreve sobre ele próprio”, a persistir após o desfecho dos créditos. Afinal, há aqui margem para explorar!”. Já André Gonçalves não partilhou o mesmo apreço, tendo atribuído duas estrelas e comentado: “Não deixa também de ter a sua ironia que, de toda a panóplia de referências aqui embrulhada, o filme que me tenha vindo mais vezes à memória seja um outro completamente diferente, protagonizado também por Adams: “Julie e Julia”;  só que em vez do livro de receitas de Meryl Streep, no seu sotaque e peruca “perfeitos”, temos um policial fraco de série D protagonizado por alguma da melhor nata de Hollywood. Entre os dois, é atirar uma moeda ao ar…“.

Animais Noturnos” é exibido no dia 27 de agosto, às 20h00, no TVC2.

O segundo destaque dos canais TV Cine e Séries vai para “Capitão Fantástico” (Captain Fantastic), realizado por Matt Ross, eis um filme que nos coloca perante um universo narrativo onde a existência de Noam Chomsky é celebrada, a imaginação e o espírito crítico são elogiados e estimulados, bem como os laços familiares, sempre de forma deveras peculiar. “Capitão Fantástico” foi exibido em certames de prestígio, tais como o Festival de Sundance e o Festival de Cannes, tendo sido recebido com alguma simpatia pela crítica (não pelo nosso Hugo Gomes, que lhe concedeu duas estrelas e meia – como podem ler aqui).

O enredo acompanha Ben (Viggo Mortensen), um pai idealista que cria os seus seis filhos fora da civilização moderna. A morte da esposa de Ben conduz esta família numerosa a ter de abandonar o espaço florestal onde vivia, tendo em vista um regressar à cidade para participar no funeral e impedir o enterro da falecida. Num determinado momento de “Capitão Fantástico” encontramos Rellian (Nicholas Hamilton), um dos seus seis filhos, a citar Noam Chomsky, um dos ídolos do progenitor: “If you assume that there is no hope, you guarantee that there will be no hope. If you assume that there is an instinct for freedom, that there are opportunities to change things, then there is a possibility that you can contribute to making a better world“.

Captain Fantastic” pode não ter o poder de mudar o Mundo, mas contribui para que este se torne num espaço mais agradável, sobretudo quando o espectador dedica cerca de uma hora e cinquenta minutos da sua vida a apreciar esta obra estranhamente terna, peculiar, sensível, ingénua e melancólica. Não falta a abordagem de temas como a paternidade, o luto, os laços familiares, os conflitos entre gerações, o crescimento e educação dos jovens, a necessidade de estimular o espírito crítico, a oposição entre a cidade e um espaço florestal, com Matt Ross conduzi-los de forma muito própria, sempre com algum humor, drama e melancolia à mistura.

Capitão Fantástico” é exibido no sábado, dia 26 de agosto, às 10h55, no TVC1

Por último, mas não menos importante, temos “99 Casas“, também com passagem por certames de prestígio como o Festival de Veneza (2014), Festival de Toronto (2015), Festival de Sundance (2015), entre outros. Os momentos iniciais desta quinta longa-metragem de Ramin Bahrani, colocam o espectador diante de um cenário desolador, com o cineasta a provocar desde logo o choque ao exibir o corpo de um indivíduo, que havia cometido suicídio no dia do arresto da sua casa. Estamos no âmbito da ficção, embora “99 Homes” tenha como pano de fundo as consequências do rebentamento da “bolha imobiliária” nos EUA, que ocorreu entre 2007 e 2008 (a narrativa decorre em 2010), com o enredo a desenrolar-se primordialmente no território de Orlando, na Florida, um local bastante afetado por esta crise. Imensas casas são arrestadas, diversas famílias perdem os seus lares, alguns corretores imobiliários lucram com a situação, bem como outros elementos que gravitam à volta destes últimos, com “99 Homes” a abordar toda esta problemática sem procurar soluções fáceis ou confortáveis. Quem também perde a sua casa é Dennis Nash (Andrew Garfield), um trabalhador da construção civil que é despejado de forma implacável, e que terá que tomar decisões intrincadas para cuidar da sua família. Estamos diante de um drama sólido, ancorado por interpretações de bom nível de Andrew Garfield e Michael Shannon, com Ramin Bahrani a colocar o espectador e o protagonista diante de uma miríade de dilemas morais.

99 Homes” conta com crítica no C7nema, escrita pela pena de Fernando Vasquez. O nosso crítico atribui três estrelas, salientando o seguinte: “Apesar do cariz humilde das intenções do filme, e do seu universo preto e branco, 99 Casas não deixa de representar uma perspetiva interessante, relevante e cativante de um drama social que o mundo ocidental rapidamente passou para segundo plano.

99 Casas” é exibido a 27 de agosto, às 16h10, no TVC2.

Ainda não chega de filmes mais recentes? Então aqui vai mais uma opção. Na RTP, o final da noite de Domingo está reservado para “Namoro à Espanhola” (Ocho Apellidos Vascos), uma comédia realizada por Emilio Martínez Lázaro que recebeu três estrelas de um dos nossos críticos de serviço, Duarte Mata. Diga-se que o Duarte Mata poupou já o nosso trabalho ao salientar o que o espectador pode esperar do filme: “Se procura algumas gargalhadas ligeiras para descontrair, este é o seu filme“.

Namoro à Espanhola” é exibido a 27 de agosto, às 23h30, na RTP1.

Por fim, importa ainda salientar a exibição de “Cães Danados” (Reservoir Dogs) no Canal Hollywood. Estreia de grande nível de Quentin Tarantino na realização de longas-metragens, “Cães Danados” conta com uma estrutura narrativa não linear, um grupo de personagens pouco confiáveis, diversas referências à cultura pop, muita violência, ação, palavrões e um assalto que não teve a conclusão desejada. Tudo decorre maioritariamente no interior de um armazém abandonado, enquanto Quentin Tarantino exibe um domínio notável dos ritmos da narrativa e tem uma estreia memorável na realização de longas-metragens.

“Cães Danados” é exibido a 26 de agosto, às 02h15, no Canal Hollywood.

 

Por hoje é tudo. Na próxima semana temos mais recomendações. Até para a semana.

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