Paul Greengrass entrou num território de prestígio de mão serena e antiquada. O realizador britânico abrandou o pulso e sossegou a sua câmara habitualmente propulsiva e agitada, construindo um western clássico, um drama com um pouco de aventura, onde impera o espírito lacónico e o passado tumultuoso.

Adaptando o romance homónimo de Paulette Jiles, Greengrass desbrava sobre uma América em transição. É a era da Reconstrução.  Cinco anos depois do fim da Guerra Civil, as armas são registadas para que a lei e ordem se imponham no Velho Oeste, onde a abolição da escravatura e as adendas à Constituição ainda levantam muita celeuma e cisão.

No meio da procura de união, o capitão Jefferson Kyle Kidd (Tom Hanks) é um veterano que visita as cidades do estado do Texas, com as boas novas debaixo do braço. Nobre e cerimonial, mas com espírito alegre de quem entretém, ele lê os factos dos vários jornais, expandindo horizontes às comunidades do Sul, enaltecendo a resiliência e sobrevivência tanto de quem o rodeia, como do “fellow american” do norte.

É um cenário de fundo que Greengrass e o argumentista Luke Davies fazem ressoar na nossa época de divisões e polarização, centrando na figura de Kidd a integridade e idoneidade de quem rejeita divulgar notícias forjadas, alimentando a esperança num mundo de alteridade cultural.

Nas suas viagens, Kidd cruza-se com Johanna (Helena Zengel), uma rapariga raptada e depois criada pelos nativos americanos Kiowa. Vendo-a desamparada e perdida, Kidd decide que a irá levar a casa dos tios, imigrantes alemães.

News of the World” enceta aqui um road movie lírico onde a bondade e a relutância do jornalista se irão confrontar com a imprevisibilidade feral desta criança, com a qual não consegue comunicar. Mas ao longo da viagem, ambos encontram conforto ao seu sentimento de perda e vão desenvolvendo confiança entre si, enquanto sobrevivem a ataques de depravação humana.

Aqui, Johanna, na qualidade de imigrante violentamente separada dos pais e de criança educada dentro da espiritualidade nativo americana, evoca o holístico da união e memória com a terra, relembrando Kidd e outros que a rodeiam, que ela tem a sapiência que os americanos perderam, demasiado ocupados e confusos em se apropriarem e usarem o outro para proveito próprio.

Mas na verdade, Greengrass nunca envereda com pulso por este caminho, introduzindo um registo episódico no filme, onde cenas de acção coesas que envolvem perseguições e tiroteios no alto das montanhas, mantêm o filme activo, mas com pouco entusiasmo.

Isto faz-nos querer sempre mais das cenas silenciosas, onde Dariusz Wolski enquadra a luz com sujidade e a escuridão com aura, sob a partitura contemplativa de James Newton Howard. E da rectidão de Kidd/Tom Hanks no seu papel arquétipo de homem gentil, sempre decente e determinado, que embora aqui amargurado e arrependido, é a nossa bússola moral e de qualidade. A bússola que faz avançar este filme sobre família e o poder da palavra, por um caminho acidentado que divide um país contra si mesmo.

Com isto, procurando ser uma fusão de “The Searchers” e “True Grit”, “News of the World” é sólido na sua execução, mas pouco ambicioso dentro do género, deixando-nos uma aventura “slow burner” com outra grande performance de Tom Hanks.

Pontuação Geral
Daniel Antero
Jorge Pereira
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