Segunda-feira, 6 Maio

«Formentera» por Jorge Pereira

Apesar da temática ser de certa maneira já muito batida, «Formentera» é um filme que nos consegue cativar até ao último minuto, ainda que seja muito mais convencional e superficial do que ambicionava
 

Será difícil assistir a este «Formentera» e nos minutos iniciais não pensar em «Alle Anderen» (Todos os Outros). Na base temos um casal que vive tempos difíceis, mas que em vez de visitar a Sardenha como no filme de Maren Ade, escolhe Formentera, em Espanha. Na realidade, esta é mais uma visita a uma ilha espanhola para Sabine Timoteo, a atriz principal desta obra e que no ano passado encontrou problemas (não só, mas também com o seu parceiro) em «Color of The Ocean», um filme de Maggie Peren.
 
Realizado por Ann-Kristin Reyels, que revisitou este ano a secção Fórum da Berlinale após «Hounds» em 2007, em «Formentera» acompanhamos Nina (Timoteo) e Ben (Lindhardt), um jovem casal alemão que deixa a sua filha junto dos avós e parte para a ilha das Baleares, mesmo a sul de Ibiza (local onde também «Lúcia e o Sexo» encontrou o seu emocionante final). 
 
É aí que eles vão reencontrar alguns amigos de Ben, um homem que secretamente ambiciona estabelecer-se na ilha e esquecer a vida chata que tem em Berlim. Quem não está a par disso, mas rapidamente se inteira da situação, é Nina. Para ela a mudança é impensável e estamos perante um caso de iminente rutura de um casamento.
 
Porém, e numa noite em que os dois decidem ir a uma festa com Mara (uma hippie com um nítido fraquinho por Ben), as coisas complicam-se. Alcoolizados, eles decidem ir nadar até Ibiza (é já ali ao pé, diz Mara), mas na verdade essa experiência vai ser marcante. Mara desaparece e Nina vai parar a Ibiza sem saber muito bem como voltar. Já Ben, esse nem chegou a entrar dentro de água, ficando assim o potencial triângulo amoroso fraturado. Eventualmente Nina regressa a casa e Ben recebe-a com um abraço como há muito não tinham. Já o desaparecimento de Mara é motivo de preocupação, ainda que se transforme em algo que definitivamente vai reaproximar este casal, pois ambos omitem a natação noturna.
 
Na realidade, e apesar da temática ser de certa maneira já muito batida, «Formentera» é um filme que nos consegue cativar até ao último minuto, ainda que seja muito mais convencional e superficial do que ambicionava. Ainda assim, o filme toca em alguns dos clichés de uma certa classe alemã pós-hippie que escolheu fugir da vida burguesa citadina e se estabeleceu nestas paragens. O curioso é que nos dias que correm, e com a idade que têm, todos eles acabam por cair daquilo que fugiram, dando a sensação de um idealismo que como tantos outros estava condenado à derrota.
 
Uma nota final para os atores, especialmente para Sabine Timoteo, uma atriz que mais uma vez demonstra capacidades dramáticas e de expressão corporal superiores à média e que é, sem dúvida, a força motriz de todo o enredo e introspeção.
 
 
 Jorge Pereira
 

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