Terça-feira, 7 Maio

«Blue Ruin» (Ruína Azul) por Roni Nunes

Tudo muda na vida de um sem-abrigo, Dwight (Macon Blair), quando ele fica a saber que um antigo desafeto foi solto da prisão. De uma rotina marcada pela invasão de vivendas para tomar banho, noites pacíficas no interior de um velho carro à beira da praia e recolha de comida nos caixotes de um parque de diversões, ele mergulha numa jornada de vingança marcada por voltas e reviravoltas na tradição dos road-movies com um pé no cinema de terror.

Sem ser propriamente nenhum dos dois, o interesse do realizador Jeremy Saulnier nesta sua primeira obra é, sobretudo, o suspense. O que consegue com uma alternância de altos e baixos. No que o filme tem de melhor, o cineasta é bem-sucedido ao recriar uma atmosfera muito particular que remete à tradição dos acertos de contas num mundo à parte da lei e onde os cenários rurais são predominantes. Operando no limite do cinema de terror, onde não faltam momentos de puro gore, Saulnier vai contornando sempre essa via, nunca abrindo mão do realismo e conseguindo um último terço particularmente satisfatório – onde de forma imprevisível desacelera o filme e evita um simples banho de sangue.

Mas se a construção do filme é cinematograficamente sólida e resulta em momentos de tensão asfixiantes, a obra  não consegue, todavia, fugir à pobreza franciscana do argumento, fazendo com que os seus esforços salvem por pouco Ruína Azul de ser um vulgar filme de de ação e vingança. Contribuiu para isso a opção por uma construção minimalista dos personagens, alguns momentos de credibilidade duvidosa e vácuo narrativo – especialmente a longa sequência na casa da irmã do protagonista. Mas é divertido q.b. e não deixa de estabelecer Saulnier como uma promessa.

O Melhor: a realização sólida de Saulnier
O Pior: argumento pobre, situações pouco credíveis


Roni Nunes 

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