Sexta-feira, 3 Maio

«Prince Avalanche» por Miguel Pinto

A última obra oferecida por David Gordon Green demonstra-se simples e minimalista. Prince Avalanche foi vencedor de um Urso de prata de melhor realizador no Festival de Berlim e a base do filme assenta na relação entre dois colegas de trabalho, Lance (Emile Hirsch) e Alvin (Paul Rudd), que namora com a sua irmã.

Baseado num filme Islandês, Á annan veg (Either Way), a versão de Gordon Green assume a postura de uma espécie de road movie, ainda que a estrada seja sempre o cenário principal. O realizador explora as relações interpessoais, o desenvolvimento das mesmas e o comportamento humano, sendo que uma das qualidades do filme é a transformação das personagens consoante as circunstâncias que as rodeiam e as ações que as mesmas tomam, levando às devidas consequências. É um filme simples, mas que carrega bastante conteúdo emocional e que se mantém sempre um exercício interessante. Como já referi anteriormente, o espectador acompanha aqui o trabalho das personagens, as suas vivências e diversas divergências, havendo assim o desenvolvimento de uma maior empatia pelos dois protagonistas.

A banda sonora (por parte de Explosions in the Sky & David Wingo) ajuda a portar a beleza da obra e faz fluir as sequências mais bem conseguidas desta, conjuntamente com a natureza captada pela fotografia.

A solidão está sempre presente no filme como uma das temáticas principais, maioritariamente na personagem de Alvin, na qual este assume um papel mais relevante que o normal e que remete também para os também diferentes estilos/ideais de vida das personagens. “Prince Avalanche” é divertido, mas sério; é leve, mas consegue transmitir algo ao espectador. Os próprios diálogos entre os protagonistas vão do mais banal até assuntos bastante sensíveis, nunca perdendo a naturalidade dos mesmos. E é aqui que entra o factor das interpretações: Emile Hirsch assenta na perfeição na personagem de Lance, um jovem algo perdido que fica preso na jovialidade e se recusa a entrar na chamada vida adulta. Paul Rudd surpreende principalmente por sair do registo habitual de comédias românticas ao vestir a pele de um homem sério e injustiçado.

A essência prende-se ao relacionamento entre os dois e com os estranhos que vão conhecendo (como a senhora que não é atriz e David Gordon Green achou a história dela digna de ser colocada no filme). É aí que jaz a identidade de Prince Avalanche, simples e minimalista, mas de uma genuinidade incrível e de uma beleza muito própria.

O Melhor: A complexidade e credibilidade dos protagonistas; a banda sonora.
O Pior: Não ser atractivo aos olhos de um público mais comercial.


Miguel Pinto

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