Quarta-feira, 8 Maio

«Hors Satan» (Fora, Satanás) por Roni Nunes

Uma aldeia litorânea francesa sedia um estranho jogo de signos subtilmente inseridos nos variados planos abertos de paisagens – que se contrapõe aos longos closes dos seus misteriosos participantes. Nesta realidade paralela, prevalece a presença fantasmagórica do intangível, nos leves movimentos dos pântanos, no pássaro que gravita à frente das nuvens, em incêndios florestais, na placidez do mar.

É aí que um misterioso andarilho vive em comunhão com as forças da natureza e opera singulares atos “altruístas” – desde “milagres” de aparência bíblica – exorcismo, ressurreição – até atos físicos bem concretos, como o espancamento e assassinato a sangue-frio. A fronteira da moral, típico apanágio das religiões, fica claramente diluída, com Dumont parecendo querer reforçar a completa impossibilidade da justiça divina. De resto, esse diálogo metafísico assume frequentemente proporções grotescas, como a cena de sexo do “milagreiro” com uma turista – que termina numa espécie de catarse epilética.

 
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Por outro lado, ao fazer questão de centrar o filme em personagens que não inspiram, até mesmo pelo seu aspeto visual, qualquer espécie de empatia – o que condiciona o nosso interesse pela sua sorte – Bruno Dumont põe sua obra a gravitar perigosamente entre o estimulante e o simplesmente entediante.

O Melhor:
a trama “paralela”
O Pior: a falta de empatia dos personagens
 
 
 Roni Nunes

 

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