Segunda-feira, 20 Maio

Adèle Haenel: “distinguir Polanski é cuspir na cara de todas as vítimas”

Adèle Haenel deu a sua primeira entrevista desde que acusou o realizador Christophe Ruggia de assédio sexual e “toques inapropriados” quando tinha 12 anos

Numa entrevista ao New York Times, Adèle Haenel afirmou que distinguir Roman Polanski [cujo “J’Accuse” conta com 12 nomeações ao César] “é cuspir na cara das vítimas“, e que a mensagem que passa é: “não é assim tão grave violar mulheres“.

Sobre as vozes que se oposeram a qualquer “censura” ao cineasta, Adèle explica que o que na verdade estava em causa era o poder de “escolher” os filmes e cineastas que se querem seguir. Segundo ela, “a censura real no cinema francês é invisibilidade“, em particular das minorias raciais: “Há exceções, como Ladj Ly, cujo filme é um enorme sucesso, ou Mati Diop, mas isso não ilustra a realidade do mundo do cinema. Continuam a ser uma minoria. Neste momento, temos principalmente histórias clássicas, baseadas numa visão androcêntrica, branca e heterossexual.

França “perdeu a carruagem” do #MeToo

Para a atriz, existe um paradoxo #MeToo em França: “é um dos países em que o movimento foi mais seguido, do ponto de vista das redes sociais, mas do ponto de vista político e mediático, a França completamente perdeu a carruagem. Muitos artistas confundiram ou quiseram confundir jogo sexual com agressão. O debate ocorreu sobre a questão da “liberdade de importunar” [evocada por Catherine Deneuve] e sobre o alegado puritanismo das feministas. Uma agressão sexual é uma agressão, não uma prática libertina.” 

Adèle reconheceu ainda que o #MeToo ajudou-a a avançar com a denúncia contra o realizador Christophe Ruggia: “O #MeToo ajudou-me a perceber que a minha história não era apenas pessoal, era uma história de mulheres, crianças, que todas carregamos. Não me senti pronta para compartilhar [a minha história] quando o #MeToo surgiu. Tirei um tempo para fazer uma jornada pessoal que permitiu-me colocar como vítima.

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