Sexta-feira, 29 Março

Morreu Mag Bodard, produtora de filmes de Jacques Demy, Robert Bresson e Agnès Varda

Mag Bodard, produtora de filmes como Os Chapéus de Chuva de Cherburgo (1963),  A felicidade (1964)Uma infância atribulada (1968), morreu esta terça-feira aos 103 anos, anunciou esta quinta-feira o seu parceiro Alain Bessaudou.

Fui eu que encontrei a ‘Maggie’ para fazer Os Chapéus de Chuva de Cherburgo. Tinha me encontrado com muitos produtores (homens) que recusaram o filme, diziam que era muito arriscado, ‘porquê cantar?’, essas coisas, e a Mag, sozinha, disse: ‘Sim. Isso interessa-me’, explicou Jacques Demy em entrevista na época.

Já Mag definiu o processo de produção e recolha de financiamento como “terrível”: “ninguém acreditava [no filme], nem o queria fazer. Convencer alguém já é difícil. Convencer alguém que já está convencido no início que não quer partipar dele, ainda pior”. No meio desse desespero, Demy chegou a ponderar fazer o filme sem música e a preto e branco, algo que a produtora recusou liminarmente: “sem cor e sem música eu não faço. É um filme que precisa da sua quarta dimensão para existir“. Durante um ano, Mag andou a “bater portas” para conseguir que o filme avançasse, até que finalmente encontrou quatro pessoas que decidiram financiar o filme, dividindo o orçamento em partes iguais. O resultado foi um sucesso, venceu a Palma de Ouro em Cannes, conseguiu 5 nomeações aos Oscars, e lançou a carreira em força do realizador, do compositor Michel Legrand, da atriz Catherine Deneuve, e claro, da própria produtora, que de 1963 a 1973 trabalhou em mais de 30 filmes.

Nascida em Turim, Itália, em 1916, antes de trabalhar no cinema Bodard foi jornalista na Indochina. Já em França trabalhou com inúmeros cineastas consagrados, contribuíndo através da produção para o seu sucesso. Demy (Os Chapéus de Chuva de Cherburgo; As Donzelas de Rochefort; A Princesa com Pele de Burro), Alain Resnais (Eu Amo-te, Eu Amo-te), Robert Bresson (Peregrinação Exemplar; Uma Mulher Meiga), Agnès Varda (A felicidade; Páginas Intimas), e Jean-Luc Godard (Duas ou Três Coisas que eu Sei Dela; O Maoista) foram alguns dos nomes com que colaborou ao longo da vida, numa carreira que se estendeu do Cinema à TV. 

Era jornalista e queria fazer TV, era o passo normal. Não havia espaço para me exprimir e como queria trabalhar com imagens, produzir imagens, fui para o cinema ser produtora“, explicou Mag Bodard numa entrevista em 1985. 

Para além da Palma de Ouro, Mag ainda viu quatro dos filmes em que trabalhou – Os Chapéus de Chuva de Cherburgo; A felicidade; Encontro em Bray (1971); e Benjamin ou Les mémoires d’un puceau (1967) – serem recompensados com o prémio Louis Delluc, criado em 1937 por um grupo de personalidades e críticos do cinema francês em homenagem ao jornalista, argumentista e cineasta Louis Delluc, considerado o “pai espiritual da crítica de cinema”.

Benjamim, assinado por Michel Deville, contava com o argumento de Nina Companeez, a qual viria a estrear-se na realização com Desejo de Amar (1972) sob a produção de Mag Bodard.

Em 2005, um documentário sobre a sua vida – Mag Bodard, un destin – foi executado para a TV francesa pela atriz Anne Wiazemsky, a qual tinha trabalhado com a produtora em inúmeras obras.

O anúncio da sua morte provocou muitas reações, incluindo a de Gilles Jacob, ex-presidente do Festival de Cannes: “Mag Bodard, a rainha dos produtores franceses, tinha um tamanho pequeno, uma doçura de ferro e 103 anos“, escreveu ele no Twitter. 

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