Quinta-feira, 28 Março

Charlotte na rota de Verhoeven

Tessa Charlotte Rampling recebeu nesta quinta-feira o Urso de Ouro honorário por um trajeto invejável como atriz que vai de Liliana Cavani (O porteiro da noite) a  Lenny Abrahamson (no inédito The little stranger), passando por Sidney Lumet, Nagisa Oshima, François Ozon, Alan Parker. Ganhou o Urso de Prata por 45 anos, de Andrew Haigh, em 2015, e a Copa Volpi de 2016 por Hannah, de Andrea Pallaoro. “Não é uma questão de aprendiz com essas grandes pessoas e, sim, de troca, de uma convivência aberta à sabedoria”, disse a atriz na sua passagem pelo Brasil, em 2006, para filmar Rio Sex Comedy.  

Mas não foi o passado da estrela inglesa que inquietou a Berlinale e sim a participação dela em um dos filmes europeus mais esperados do momento: Benedetta, do artesão holandês Paul Verhoeven, que acabou adiado por problemas de saúde do realizador de Elle (2016). Ficou a cargo de Charlotte ser uma das entidades sacerdotais que testemunham a descoberta sexual de uma jovem freira (Virginie Efira), às voltas com delírios e com uma paixão homoafetiva. É difícil arrancar palavras de Charlotte sobre o projeto, assim como ouvir dela algo sobre Dune em releitura por Denis Villeneuve. 

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O cinema deu-me a chance de visitar mundos muito distintos de grande potência emotiva”, disse a atriz, que, em sua passagem pelo Rio, requebrou o esqueleto num samba, esbanjando simpatia.

No páreo pelo troféu principal, dois filmes se impõem como favoritos: God exists, Her name is Petrunya, da Macedónia, no qual a cineasta Teona Strugar Mitevska denuncia o sexismo seja no mercado de trabalho, seja na religião; e Elisa y Marcela, no qual a catalã Isabel Coixet trás à tona a história do primeiro casamento entre duas mulheres na Espanha, em 1900. Mas algo há (ou deve) sobrar para La Paranza dei Bambini (Os Meninos da Camorrapt; Piranhasbr), de Claudio Giovannesi, cujo foco se volta para a juventude mafiosa de Nápoles.


Elisa y Marcela

Fala-se muito por aqui de Serpentário, produção luso-africano de Carlos Conceição, acerca de um jovem angolano em errância, atrás de si, da mãe e da imagem que traduza algo de identitário sobre si e sua origem. É um dos destaques da mostra Fórum, que acolheu a produção brasileira Chão, de Camila Freitas, sobre trabalhadores sem terra de Goiás.

Sexta é dia de Marighella por aqui. A imprensa já viu a estreia de Wagner Moura como realizador, mas, por embargo do festival, só se pode falar sobre a longa metragem (qualquer um deles) após cerca de 30 minutos de sua primeira apresentação pública. Mas amanhã, as cenas de ação e o desempenho de Bruno Gagliasso devem virar assunto – e alvos de elogios. É Seu Jorge quem interpreta o guerrilheiro baiano que encarou a ditadura.

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