Terça-feira, 23 Abril

Oscars®: Alfonso Cuarón diz que a corrida às estatuetas é “desgastante” e “cruel”

 

Numa entrevista à Deadline, o cineasta mexicano Alfonso Cuáron, cujo filme Roma é um dos mais nomeados e principais candidatos aos Oscars®, afirmou que a  promoção ao seu filme nesta época dos prémios é algo desgastante e que os jogos de bastidores na corrida às estatuetas são “desanimadores“.

Esta indústria transformou tudo em algo um pouco mais cruel; muito cruel. O triste é que se tornou quase como uma projeção de como as campanhas políticas são hoje em dia. Em vez dos políticos mostrarem uma visão, lançam lixo sobre o adversário. Assim, em vez de reforçarem os valores – e não falo de valores morais, mas dos méritos artísticos de um filme e da influência que ele pode ter -, tenta-se empurrar os outros para baixo. Acho isso muito triste. Espero que haja uma maneira – embora não tenha a certeza de como – de que isso possa ser regulado pela Academia.

Uma parte importante desse processo são os jornalistas, que nesta época necessitam de criar “mais dramas” para preencher as suas páginas: “Todos dizem sempre: ‘Não fui eu, não fui eu [que lançou as notícias negativas] E há tantas repetições das mesmas histórias nesta temporada que os jornalistas precisam de mais histórias para criar o drama. Infelizmente, o drama às vezes é à custa de bons filmes, excelentes pessoas e ótimos cineastas.“.

Cuarón diz ainda que a longa extensão da campanha para os Oscars alimenta o problema: “São seis meses de duração, em que na primeira parte, toda a gente está a descobrir os filmes e há o factor surpresa. Nesse período, tudo é normal. As pessoas gostam de alguns filmes, não gostam de outros e isso é bom. Mas a partir daí começa-se a se transformar em algo completamente diferente. (…) as histórias [negativas] são lançadas completamente fora de contexto e, quando são lançadas, ficas a pensar: porquê, particularmente, agora?

Pegando no exemplo das notícias lançadas sobre o realizador de Green Book, Peter Farrelly, em que notícias do seu comportamento inapropriado no final dos 90 foram repescadas, Cuáron diz: “A minha opinião sobre isso é que você pode questionar o bom gosto das atitudes. Podemos debater se foi de bom gosto ou mau gosto, ou se achamos divertido ou não. Mas não devemos transformar isso noutra coisa. É triste, porque [esta época] deveria ser de celebração. É desanimador; realmente desanimador. (…) [Esta época] costumava ser sobre como um prémio era uma grande honra para um cineasta. O problema é que agora a agenda é mais importante para as empresas envolvidas. Eles têm mais em jogo do que qualquer outra pessoa, e isso não é bom.” 

Os prémios da Academia serão entregues numa cerimónia que vai decorrer a 24 de fevereiro de 2019. 

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