Terça-feira, 23 Abril

Morte de ícone do cinema iraniano leva a manifestações de protesto em Teerão

 

A morte de uma antiga estrela do cinema iraniano levou a manifestações de protesto de milhares de pessoas em Teerão. Os manifestantes foram para as ruas a 27 de maio para homenagear Nasser Malek Motiee, ícone do cinema local antes da Revolução Islâmica. O ator e realizador foi (não oficialmente) banido das telas depois de 1979, como muitos outros artistas pré-revolucionários, sendo associado à decadência do estilo ocidental.

Testemunhas relataram que as forças de segurança usaram gás lacrimogéneo para dispersar os manifestantes que gritavam slogans, condenando o regime islâmico de colocar Malek Motiee numa lista negra e ignorando-o em todos os serviços dos Media estatais, pelo menos até à sua morte, no dia 25 de maio.

Numa entrevista à agência de notícias iraniana Fars, o vice-comandante da polícia da capital, Hamid Hodavand, confirmou que a polícia havia contra-atacado “oportunistas” que, segundo ele, aproveitaram a cerimónia fúnebre para executar o que ele chama de “guerra psicológica … lançada pelo inimigo, especialmente sionistas (Israel) e americanos“.

Com mais de uma centena de créditos como ator até 1979, Motiee só esporadicamente pôde exercer a sua profissão depois da revolução, como em 2014, quando participou em Negar’s Role. “Não consigo descrever o quanto estou feliz por ter regressado ao cinema de novo”, disse Malek-Motiei durante a apresentação do filme nesse ano, acrescentando: “Sou o ‘Bad Boy’ do cinema que voltou a casa (…) Ao longo dos anos, estive longe do cinema. Era como se estivesse longe da minha amada. Sempre pensei no meu amor e agora não sei se o meu amado me aceitará de volta“.

A razão de se ter tornado persona non grata

A proibição de Motiee nunca foi oficial e o ator e realizador nunca foi particularmente uma pessoa com fortes palavras políticas antes da Revolução Islâmica. Uma das razões apontadas para o facto de ter sido “banido” no seu pais foi a circunstância de ser o primeiro ator iraniano a beijar nos lábios uma atriz, Vida Qahremani, no filme Crossroad of Events (1955). Segundo relatos da época, a cena teve o efeito de um terremoto em todo o Irão, existindo mesmo rumores que o aiatolá Golpayegani, de Qom, quase sofreu um ataque cardíaco com a cena.

A própria Qahremani teve que entrar em regime semi-clandestino, recusando novos papéis por dois anos. Mais tarde, já depois de se exilar nos EUA no pós-revolução, a atriz referiu que depois dessa obra e dessa cena foi “alienada por aqueles amigos que viram o seu ato corajoso como algo imoral”.

 

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