Terça-feira, 19 Março

Notre-Dame-des-Landes: personalidades do mundo do cinema apelam à defesa da ZAD

A segunda fase de expulsões lançadas sobre a ZAD (zone à défendre/ zona a defender) de Notre-Dame-des-Landes arrancou no dia 17 de maio e num artigo publicado no Le Monde, diversas personalidades do mundo do cinema, entre elas os cineastas portugueses Miguel Gomes, Pedro Costa, João Pedro Rodrigues, Susana Nobre e Leonor Noivo, incentivam a que se “filme” e se defenda um “verdadeiro lugar que luta para construir o imaginário” e onde prima ainda a “ideia de experimentação“. 

Na origem deste “manifesto” está Vent d’Ouest, pequeno filme erradamente atribuído a Jean-Luc Godard que funcionou como o gatilho para o mundo do cinema se envolver em relação à temática. 

ZAD de Notre-Dame-des-Landes 

Em 2009, para impedir a construção de um grande aeroporto no noroeste de França, que iria substituir o atual aeroporto de Nantes, o bosque de Notre-Dame-des-Landes foi invadido por um grupo de ativistas que aí montou um acampamento onde os terrenos “são utilizados para fins ambientalmente sustentáveis.” Apesar da ideia de construir o aeroporto ter sido abandonada, o governo de Emmanuel Macron assegurou que iria evacuar o local e prometeu devolver os terrenos aos antigos proprietários.

A fase das expulsões já começou, em abril, e levou a violentos confrontos entre ativistas e a policia. 

O Manifesto

Relembrando o manifesto de 1970, intitulado Que Fazer?,  escrito pelo ícone da Nouvelle Vague, o grupo de 250 personalidades relembra os dois primeiros pontos de fazer filmes políticos e de fazer politicamente filmes. “Essas duas proposições dialéticas constituem as bases de um texto magnífico, que confunde as fronteiras entre a política e o cinema, ao mesmo tempo em que afirma a necessidade de esclarecer as nossas posições. (…) Nós não podemos estar do lado da polícia e dos manifestantes. Fazer o 1 é acreditar que existem filmes reais e falsos. Fazer o 2 é saber que a verdade está na luta. Então, se esse filme é um falso Godard, a verdade é que o entendemos como um apelo. A verdade é que há despejos em Notre-Dame-des-Landes, é que as pessoas que lutam terão as suas casas destruídas. Pessoas que lutaram, durante anos (…) e que venceram. A verdade é que o Estado está a esforçar-se para destruir experiências comuns, tentativas de organizações que ainda estão a inventar-se, uma natureza que se defende e as múltiplas vidas que a habitam. E nós tomamos posição como cineastas.

Os Signatários

Para além dos cineastas portugueses já referidos, a que se junta também o diretor de fotografia Rui Poças, diversas personalidades (realizadores, atores, críticos de cinema, etc) assinaram a tribuna no Le Monde. Entre eles encontramos Serge Bozon, Victor Erice, Philippe Garrel, Alain Guiraudie, Adèle Haenel, Clotilde Hesme, Aki Kaurismäki, Sophie Letourneur, Bertrand Mandico, Valérie Massadian, Mariana Otero, Ben Rivers, Jonathan Rosenbaum, Ben Russell, Claire Simon, e Paul Vecchiali.

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