Sábado, 27 Abril

Wes Anderson: “A coisa boa na animação é que um ator não pode dizer que não está disponível”

Começou hoje o Festival de Cinema de Berlim e antes da sua antestreia na gala desta noite, foi organizada a habitual conferência de imprensa em torno de Isle of Dogs, o novo filme de Wes Anderson.

No novo filme do realizador de O Grande Hotel Budapeste estamos num futuro distópico onde um grupo de cães, exilados numa ilha feita de lixo, lutam para se manter vivos em circunstâncias desfavorecidas. Enquanto isso, um menino corajoso arrisca tudo pelo amor ao seu cão.

Marcaram presença na conferência, Wes Anderson, Bryan Cranston, Koyu Rankin, Jason Schwartzman, Bob Balaban, Liev Schreiber, Kunichi Nomura, Greta Gerwig, Bill Murray, Jeff Goldblum & Tilda Swinton.

Como nasceu a ideia e o projeto

Acho que foi através  do [dramaturgo] Tom Stoppard, ou então talvez numa entrevista do Mike Nichols a citar o Tom Stoppard, foi algo assim. Ele dizia que quando começa a trabalhar numa peça, não é porque teve uma ideia, mas duas ideias diferentes que se misturam. Nós começamos este projeto com uma ideia em torno de cães abandonados numa lixeira, um grupo de cães que vive no meio do lixo. [Paralelamente] Tínhamos também a ideia de fazer algo ligado ao Japão, especialmente ligado ao nosso amor pelo cinema nipónico, em particular a Kurosawa. A ideia que apareceu era que esta devia ser uma fantasia japonesa“, disse o realizador.

 

Originalmente, a ideia era outra

De facto, a nossa versão original, e vou tentar não vos confundir, era de o filme se passar no futuro. Então, no inicio, a voz diria que estávamos em 2007, pois era suposto o filme dar a entender que tinha sido feito no início da década de 1960. Podem perceber [pela confusão que isso geraria] porque optamos por não fazer o filme dessa maneira (risos). Era um conceito.

A Escolha dos atores para a voz

Reconhecendo que as pessoas escolhidas para dar voz às personagens já tinham trabalhado com ele, ou então ele já admirava bastante, Anderson acrescentou em tom jocoso que “a coisa boa numa animação é que [um ator] não pode dizer que não está disponível. Esse trabalho vocal pode ser feito a qualquer altura. Na tua casa, a qualquer hora do dia. Não há desculpa.“.

Murray, que durante toda a conferência de imprensa mostrou humor, concordou: “[Participei] porque não tinha opção. Trabalhar com este grupo nas vozes é como estar no vídeo do We Are the World. Penso que são as melhores vozes do Cinema e estou muito feliz de cantar com eles, mesmo que seja apenas um verso“.

 

A influência de Hayao Miyazaki

Reconhecendo que interessou-se mais pela animação japonesa quando começou a trabalhar em O Fantástico Sr. Raposo, que complementava a influência principal que era o trabalho de Roald Dahl, Anderson disse que houve dois cineastas nipónicos que o inspiraram para Isle of Dogs: Akira Kurosowa e Hayao Miyazaki. “Até temos a Mari Natsuki que participou na Viagem de Chihiro e que trabalhou para nós com a sua voz maravilhosamente. [Essa inspiração] veio do detalhe e também dos silêncios. Com Miyazaki você obtém a natureza e recebe momentos de paz, uma espécie de ritmo que não é tanto na tradição da animação americana. Isso inspirou bastante. Houve momentos em que eu trabalhei com o [compositor] Alexandre Desplat na partitura da banda-sonora e encontramos muitas situações onde tivemos de retirar o que estávamos a fazer musicalmente porque o filme teria de encontrar o silêncio. Isso veio do Miyazaki.

Um toque mais político que o habitual

Tivemos de inventar a politica desta cidade. Tínhamos de ter um presidente da câmara, tinha de haver algo político. Esta é a nossa fantasia da política deste sítio no Japão. Depois, o mundo começou a mudar e pensamos em situações que nos pareciam apropriadas para o momento. Houve assim pequenos espaços que foram encontrando novas influências em coisas reais, que encontraram forma de entrar no filme (…) Era uma história que podia acontecer em qualquer lado, em qualquer altura.

 

A escolha da animação de modelos

Porque ainda usa modelos e não trabalha tudo digitalmente, questionaram Anderson durante a conferência de imprensa. O cineasta diz que prefere “abraçar métodos antigos“, renunciando a efeitos gerados por computador para modelos práticos.

Acho que não há nada no filme em CGI. Há coisas que são combinadas no processo digital, mas tudo foram elementos que filmamos. Tudo era miniatura (…) Eu adoro modelos, há uma espécie de charme. Eu quero fazer um modelo, porque é um modelo, ligado ao cinema e à sua história

Os Desafios

Os maiores desafios são os mais divertidos“, disse Anderson, acrescentando que o maior de todos é “fazer uma grande história, um grande guião“. “Em animação temos pequenos problemas que não acontecem em outro tipo de filmes, como por exemplo, “este boneco não ri”. Há muitas pequenas coisas assim, e não sorrir pode ser muito importante se for fulcral para a cena (…) Mas há sempre uma solução“.

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