Sexta-feira, 19 Abril

Apichatpong Weerasethakul: o Cinema e o sono; o seu novo projeto; e o reconhecimento

O vencedor da Palma de Ouro, Apichatpong Weerasethakul (O Tio Boonmee Que se Lembra das Suas Vidas Anteriores), marcou presença no Festival Internacional de Cinema de Roterdão este ano com a sua experiência “SLEEPCINEMAHOTEL“, um espaço no terceiro andar do World Trade Center da cidade, onde qualquer um podia reservar um quarto para dormir durante a noite e assistir ao visionamento de trabalhos audiovisuais repletos de imagens hipnagógicas.

Durante o festival, Weerasethakul falou com o Screen Daily, dando alguns detalhes sobre esta experiência em torno do sono, bem como alguns detalhes sobre o seu próximo filme, Memoria, o qual será filmado na Colômbia em 2019 – com a produção do antigo diretor do Festival de Roterdão, Simon Field.

O sono e o cinema

“Para mim, dormir no cinema significa que você está cansado ou então suficientemente confortável para baixar a guarda e aceitar misturar os seus próprios sonhos com o som e a imagem [do filme]”, disse o realizador, que confessa que a sua experiência em Roterdão foi um sucesso, com todas as camas – a 75 euros por noite – reservadas durante toda a duração de 5 dias.

O próprio realizador, muitas vezes acusado da lentidão das suas obras provocar sono na audiência, afirma que já dormiu a ver filmes, citando o último filme da saga Planeta dos Macacos, no qual adormeceu cerca de meia hora.

Memoria

Já sabiamos que o projeto tinha nascido como resposta à censura e clima político na Tailândia, que permanece sob o domínio militar desde maio de 2014. Weerasethakul viajou por Bogotá, Cali, Medellin e Choco para estudar o local, visitou prisões e hospitais mentais, tendo se encontrado com psicólogos. “É um país fascinante. É o meu primeiro filme fora da Tailândia. Espero que seja uma boa escolha“, disse o realizador, que acrescenta que as histórias da selva tailandesa que leu quando era criança – e que já tinham sido influenciadas pela romantização que os americanos e europeus incutiram na “Selva” – foram uma influência para este projeto – que promete ser tipicamente divertido e oblíquo.

Ele mesmo já o tinha dito há um ano atrás ao The Hollywood Reporter: “Quando eu era jovem, eu estava realmente apaixonado por histórias de aventura na Tailândia, que lidam com animais da selva e todos esse tipo de coisas (…) mas quando você olha para as fontes, é tudo do Ocidente: europeus e americanos que vieram com a colonização e romantizaram a selva amazónica. E então, os tailandeses e os romancistas tailandeses, foram influenciados por isso; O cinema também, foi influenciado por esse romance da selva “.

Weerasethakul diz ainda que o seu filme será muito ligado à espera de algo desconhecido e que a natureza e as particularidades do país tocarão na história.

A fama internacional e o desprezo na Tailândia

Apesar de ter conquistado a principal distinção no Festival de Cannes, Weerasethakul reconhece que os seus filmes ainda lutam para encontrar um público na Tailândia. “Isso (a Palma de Ouro) não importa lá. O cinema e a arte na Tailândia não são considerados valiosos. O governo não dá muito apoio e não se importam muito com isso. Digamos que o Ministério da Cultura na Tailândia é o posto político que ninguém quer.

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