Terça-feira, 16 Abril

Estado Cristão ameaça filme na Rússia

A antestreia de Matilda, um filme polémico sobre Nicolau II da Rússia, teve medidas de segurança sem precedentes na cidade de Vladivostok ontem (11 de setembro), isto depois de inúmeras ameaças e ataques visando o seu diretor, Aleksei Uchitel, e toda a estrutura por trás da produção e distribuição.

A obra, que vai representar a Rússia nos Óscars, aborda a relação entre Matilda Kshesinskaya, uma jovem bailarina, e o último dos czares, considerado como um mártir pela Igreja Ortodoxa. Nicolau II foi mesmo canonizado em 2000.

Apesar de só estrear em outubro, têm sido bastantes os protestos, liderados pela advogada e deputada da Duma Natalya Poklonskaya, que desde o primeiro momento quis proibir a estreia do filme. Mas ela não está sozinha nesta luta. Ramzan Kadyrov, o chefe da região russa da Chechénia no Kremlin, argumenta que a exibição de Matilda deveria ser banida nas regiões mais muçulmanas do Cáucaso do Norte porque era um “insulto premeditado aos sentimentos” dos crentes religiosos.

Segundo o realizador, a distribuidora Karo foi mesmo ameaçada por um grupo radical Ortodoxo, denominado Estado Cristão, que afirma que a produção é “um insulto à História da Rússia” e que poderia levar as pessoas “a cometerem atos de violência”. Ora, esses atos de violência já começaram a ocorrer. Ontem, 11 de setembro, homens mascarados incendiaram duas viaturas junto aos escritórios dos advogados de Uchitel, deixando uma anotação que dizia:”Queimar pela Matilda“. Na semana passada, a 4 de setembro, um homem avançou com a sua viatura contra um cinema em Yekaterinburg, local onde os revolucionários bolcheviques executaram o Czar e a sua família. A entrada do cinema foi consumida pelas chamas. Já a 31 de agosto, vários cocktails Molotov foram lançados contra o estúdio do realizador em São Petesburgo.

O porta-voz do presidente Vladimir Putin, Dmitry Peskov, tem apelidados estes ataques de “um ato de extremismo que deve ser investigado pela lei” até às últimas consequências, mostrando-se cauteloso e avançando que medidas especiais de segurança serão tomadas nos espaços onde o filme vai ser exibido.

Em Vladivostok, num discurso antes da exibição, o diretor Aleksei Uchitel convidou o público a apoiar seu filme: “O filme não ofende ninguém. Por favor, apoie-o, mesmo que não goste.” Um outro visionamento, em Moscovo, programado para ontem, foi adiado por “questões técnicas“.

 

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