Sexta-feira, 29 Março

Cannes: A sombra de Orson Welles a ofuscar a Riviera Francesa

Pergunta: será Orson Welles o maior dos cineastas? Esta é uma dúvida que “aterroriza” esta 70ª edição do Festival de Cannes. A verdade é que quem acompanha o evento sabe que no início de cada sessão somos presenteados com uma apresentação de, literalmente, subir as escadas do pedestal cinematográfico. Um caminho que sempre nos encaminhou para a Palma de Ouro.

Este ano, de forma a festejar os 70 anos de existência, cada degrau foi batizado de forma honrosa com alguns dos maiores nomes do Cinema Mundial, e quem não melhor para servir de último e derradeiro degrau – Orson Welles. O realizador de Citizen Kane e Touch of Evil ficou logo acima do sueco Ingmar Bergman, na segunda posição, em frente a cineastas como Kenji Mizoguchi, Vittorio di Sicca, Carol Reed e até mesmo de Satyajit Ray. Reiteramos a pergunta: será mesmo Orson Welles o maior dos cineastas? Ou é ético colocar assim em posições (os ditos degraus parecem funcionar dessa maneira) nomes incontornáveis e, citando um filme no qual Manoel de Oliveira participou, “cada um com o seu cinema“?

Mas deixemo-nos de questões pertinentes por parte da estético e do grafismo do Festival e passemos ao que mais interessa, os filmes. O segundo dia foi acolhido com um enorme entusiasmo, assim como adesão máxima da imprensa e outros, ao mais recente filme de Todd Haynes – Wonderstruck. Depois do pequeno burburinho que tem feito por aí, chega a vez de assistirmos em primeira mão a um dos possíveis candidatos aos Óscares. Faço já derradeiras apostas. Pelo menos a nomeação a banda sonora é mais que certo … e certeiro.

Wonderstruck foi um projeto ambicioso, um realizador que caiu nas boas graças com o seu Carol (que sofreu um dos maiores “snubs” aos grandes prémios da Academia), e que tenta reinventar-se através de uma mixórdia de esteticismo. Haynes consegue aqui um feito na sua plasticidade técnica, atribuindo uma dinâmica narrativa e arriscado nesses termos, entre eles a aposta de um filme sobre o endurecedor silêncio que corrompe a nossa ligação com o exterior. Infelizmente, e apesar dos atributos aqui referidos, Wonderstruck é um primoroso crowd pleaser, uma obra inofensiva, virtuosa (sim), mas pacifista com o seu cinema e, porque não, atribuir-lhe um quê de panflentarismo de inserção social. Temos aqui o mais forte candidato à Palma e, sim, um possível escolhido para as enésimas listas de melhores do ano que surgiram nos dias finais de 2017. Vai uma “apostinha”?

Entretanto, Takashi Miike responde ao glamour e à “correta” forma de fazer cinema de Haynes com a história de samurais imortais e um banho de sangue de proporções colossais tecida num tom híbrido entre a despreocupação e o rigor narrativo e técnico. Blade of the Immortal é um entretenimento refrescante para nos fazer esquecer, por momentos, a Competição que ainda se encontra em fase inicial.

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