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Os aplausos regressam a Cannes, mesmo com a presença de fantasmas

Depois de um comité de boas-vindas fria, Desplechin a fazer das suas, o festival seguiu-se com uns fantasmas que nos persegue desde a sua concepção … não, não são os de Ismael, são sim a Netflix. Aliás, o confronto entre as plataformas e os novos métodos de exibição como de visualização parece ainda ter chegado ao seu auge.

A apresentação do júri oficial prenuncia esse prolongo, se de um lado Pedro Almodóvar, presidente do Júri da Competição, declarou que não iria atribuir uma Palma de Ouro a um filme que não iria passar no grande ecrã, por sua vez, Will Smith referiu o facto dos seus filhos conciliarem a ida ao Cinema com o visionamento de filmes num pequeno ecrã, nomeadamente um PC. Esta utopia para cinéfilos ferrenhos é pura heresia, para as novas gerações de moviegoers é o futuro e para cinematograficamente românticos, é uma incógnita. Ninguém fala de outra coisa, até porque o primeiro dos dois filmes de produção Netflix em Competição, está de visionamento marcado para breve. Que venham daí esses apupos (premonição).

Mas voltando ao primeiro ponto para chegar ao fim do dia, que foi a indiferença com que Les Fantômes d’Ismael foi recebido pela imprensa, Andrey Zvyagintsev e o seu Loveless arrancaram eufóricos aplausos na plateia. O russo de Leviathan [1]conseguiu a primeira grande obra de Cannes, um filme que utiliza o desaparecimento de uma criança para validar uma declaração à ausência comunicativa e afectiva das sociedades modernas, com farpas à russa em particular. É um filme de uma técnica irrepreensível, alarmante e corajosamente frio à primeira vista, porque os rasgos emotivos estão lá, com a ajuda de actores capazes de repreender um previsível overacting.

A verdade é que Zvyaguntsev pode não ser o realizador mais adorado da Rússia, existe um ativismo nele que os conterrâneos parecem torcer o nariz. Mas o seu filme fez ganhar o dia. Um dia que começou da pior forma para fluir num filme complexo, mesmo soando simples e enganosamente contemplativo.