Sexta-feira, 19 Abril

Morreu o cineasta japonês Seijun Suzuki (1923-2017)

O diretor japonês Seijun Suzuki, que influenciou muitos cineastas internacionais, incluindo Quentin Tarantino, Takeshi Kitano, Wong Kar-wai e Jim Jarmusch, morreu no passado dia 13 de fevereiro aos 93 anos. Ele morreu de doença pulmonar, informou o seu antigo estúdio de cinema, Nikkatsu.

Nascido em maio de 1923, Suzuki cumpriu o serviço militar durante a Segunda Guerra Mundial, estreando-se no cinema em 1948, quando começou a trabalhar para a Shochiku Film Company, maioritariamente como assistente de direção. Foi em 1956 que se estreia na realização. Durante doze anos executou para a Nikkatsu quatro dezenas de filmes de série B, a maioria com a temática da Yakuza, todos com uma estética muito particular, o que lhe valeu mesmo o termo de “Seijun bigaku“.

O seu estilo cada vez mais surreal, arrojado e “cada vez mais incompreensível” levou à ira do estúdio e culminou com a sua demissão. Suzuki processou a Nikkatsu por despedimento sem justa causa, posteriormente ficando na lista negra durante 10 anos. “O melhor que alguma vez lhe aconteceu foi ser despedido“, escreveu o The Guardian em 2015. Sobre esse conflito com os estúdios, Suzuki disse anos depois: «Na verdade, fazer filmes era um trabalho doloroso, como eu costumava dizer à minha esposa. Eu já queria sair de lá quatro ou cinco anos antes. Eu disse-lhe que odiava este processo insensato e doloroso. Ela respondeu-me que eu não deveria dizer uma coisa dessas … que se eu falasse assim, isso se tornaria realidade. E foi o que aconteceu. Para mim, foi um alívio. Eu senti-me sempre assim desde o início».

Para sustentar-se durante o julgamento e durante os anos em que esteve na lista negra, o cineasta publicou diversos livros de ensaio e dirigiu vários filmes para televisão, para além de séries e anúncios publicitários. Foi só em 1977 que o realizador regressou ao trabalho no cinema, com A Tale of Sorrow and Sadness (1977).

Marcado como cineasta independente, Suziki notabiliza-se pela trilogia Taishō [Zigeunerweisen (1980), Kagero-za (1981) e Yumeji (1991)] e recebe inúmeras distinções, atribuídas por entidades tão diferentes como a Academia de Cinema Japonesa, o Festival de Berlim, ou o Festival de São Paulo.

Sobre trabalhar fora do sistema de estúdio, comentou: «Falando de forma prática, eu não mudo como cineasta. Porém, o sistema de estúdio oferecia uma maneira muito conveniente de trabalhar, e nas filmagens independentes é muito diferente. Na Nikkatsu, se eu tivesse uma ideia pela manhã, poderia ser implementada à tarde. É muito mais complicado agora. Eu acho que ainda estou a tentar usar as locações como usava nos estúdios, mas os problemas de iluminação tornavam tudo mais difícil.» 

Pistol Opera (2001), um  quasi-remake do filme que levou a Nikkatsu a despedi-lo, Branded to Kill (1967),  e Princess Raccoon (2005) foram os seus últimos trabalhos no cinema. 

Damien Chazelle, realizador de La La Land, disse recentemente numa visita a Tóquio que o filme Tokyo Vagabond(1960) foi uma das inspirações para o seu musical.

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