Sexta-feira, 19 Abril

Berlinale: será «Cartas da Guerra» candidato ao Urso de Ouro?

Como é evidente, o júri liderado por Meryl Streep, e que inclui um muito humilde e consciente Clive Owen (que ressaltou na conferência de imprensa do início do festival que sabe que um prémio na Berlinale “pode mudar a carreira de um filme”), a estas alturas ainda pode não fazer a menor ideia do que escolher. Embora com acesso aos filmes antes dos demais mortais, não é provável que, com o festival ainda a meio, a premiação já esteja decidida.

Cartas da Guerra traz elementos que costumam agradar à Berlinale, notoriamente o “exotismo” e uma abordagem estética diferenciada. Mas, uma coisa é ser selecionado, outra ser galardoado por júris que mudam todos os anos. O filme é visualmente impecável: Ivo Ferreira teve a delicadeza de, acompanhado do seu diretor de fotografia, João Ribeiro, traduzir em imagens de uma singularidade muito própria um texto literário que, à partida, não trazia em si um enredo para um filme.

Por outras palavras, as cartas que António Lobo-Antunes escrevia para a sua esposa quando, contra a vontade, estava em Angola a testemunhar o desenrolar de uma guerra sem sentido, não traziam elementos para uma narrativa. O que se vê no filme é a leitura em áudio de poesia – e uma tradução visual para elas inteligentemente desligada de uma relação óbvia com o seu texto.

Se o filme peca ligeiramente por não investir em personagens e manter a história numa base essencialmente alegórica, esta característica nunca incomodará um festival especializado nisto mesmo – apresentar perspetivas diferentes do tradicional. De qualquer forma, para um espectador não português é duríssima a tarefa de acompanhar por legendas uma leitura ininterrupta de cartas fortemente marcadas por uma linguagem poética e de difícil (não impossível) tradução. Às tantas, Ivo Ferreira para o filme e deixa-o inteiramente entregue à uma longa elegia de um escritor para a sua amada distante. A ver… veremos.

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