Sexta-feira, 29 Março

Wim Wenders teme desaparecimento do 3D

Estreia hoje (11/11) em Portugal Tudo Vai Ficar Bem, último trabalho do realizador alemão, que investe numa rara aproximação do cinema de autor com a tecnologia em três dimensões. Wim Wenders, que sempre gostou de experimentar novas formas de contar histórias, segue um trajeto que ele próprio iniciou com Pina, lançado em 2011.

De passagem pelo Estoril, onde o C7nema esteve presente, no âmbito do Lisbon & Estoril Film Festival (LEFF), Wenders defendeu com ênfase a validade de um artifício normalmente utilizado nos filmes de ação em projetos com outro tipo de ambição. Neste sentido, o cineasta teme que, se outros realizadores não explorarem o recurso, ele prosseguirá uma «gímnica» ligada a blockbusters que tende a desaparecer sem que se tenham explorado todas as suas possibilidades.

Um dos seus atributos artísticos, por exemplo, diz respeito às performances: o 3D garante profundidade na perceção dos personagens e exige muito dos atores. «Não pode haver overacting, é diferente de um filme como ‘Os Piratas das Caraíbas’ onde Johnny Depp faz uma caricatura», assinalou. Wenders reconhece que a própria indústria tem dificuldade em aceitar a utilização do 3D desta forma: «Eles não entendem porque é necessário, onde quero chegar com isso».

Tudo Vai Ficar Bem é um drama com paralelos com outros trabalhos do autor, baseado em amplas paisagens, poucos personagens e as relações emocionais entre eles – ao mesmo tempo que todos passam por profundas transformações. Tomas (James Franco) é um escritor em crise existencial e matrimonial, Sara (Rachel MacAdams) é sua esposa e Kate (Charlotte Gainsbourg) é uma aparição fortuita na sua vida.

Lisbon Stories

Não tivesse sido a capital portuguesa o local homenageado num dos mais importantes filmes do cineasta (Lisbon Story) e os elogios de Wim Wenders à cidade poderiam ser interpretados como apenas mais uma das habituais lisonjas de ocasião feitas pelos visitantes. Mas a relação com a cidade é longa: conforme relatou, quando filmava Até o Fim do Mundo «o dinheiro acabou e a parte que é passada em Moscovo foi, na verdade, recriada em Lisboa». Uma das ideias presentes em toda a sua carreira é, justamente, a importância dos lugares como itens fundamentais do storytelling. «Os lugares em si também estão a contar uma história», diz.

Quanto à exposição À Luz do Dia até os Sons Brilham, inaugurada durante o LEFF e que prossegue até abril de 2016, ele classifica como uma «louca ideia» de Paulo Branco, diretor do evento e coprodutor de alguns dos seus trabalhos, e que «ficou contente» com o resultado.

De resto, conforme já tornado público anteriormente, os dois retomam a parceria de anos atrás em The Beautiful Days of Aranjuez, próximo trabalho de Wenders, que deverá ser lançado no próximo ano. O filme traz nomes auspiciosos, como os do dramaturgo Peter Handke novamente a colaborar com o realizador (como coargumentista), o de Reda Kateb e outro habitual – Nick Cave (como músico e argumentista), desta vez a surgir como ator.

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