Quarta-feira, 24 Abril

Cannes: Por Itália “correm” as mulheres

Verdade seja dita, este é um ano atípico para a cinematografia italiana em Cannes. Os homens – Nanni Moretti (Mia madre), Gabriele Salvatores (Il ragazzo invisibile), Ermanno Olmi (Torneranno i prati) e Mario Martone (Il giovane favoloso) – ficam “em casa” a terminar os seus mais recentes projetos e cabe a duas realizadoras – Asia Argento e Alice Rohrwacher [na imagem acima] – representarem o país competitivamente no certame.

«Não parei de chorar». Assim reagiu Rohrwacher à imprensa pelo facto do seu mais recente filme, Le Meraviglie, ter sido selecionado para a competição oficial no Festival de Cannes. A cineasta de 33 anos acreditava que podia voltar ao Croisette, mas provavelmente na secção Un Certain Regard ou então na mostra paralela da Quinzena dos Realizadores, por onde até passou em 2011 com Corpo Celeste [ler critica]: «estou muito feliz, é uma grande responsabilidade, mas também uma alegria imensa».

Com alguns componentes autobiográficos, Le Meraviglie conta no elenco com a irmã da cineasta, Alba Rohrwacher, para além do bailarino e ator belga Sam Louwyck, a suiça Sabine Timoteo (de filmes como Color of The Ocean e Formentera) e a italiana Monica Bellucci, que tem aqui uma pequena participação.

Quanto ao enredo, no filme estamos na Úmbria. Aí seguimos Gelsomina, uma jovem de 14 anos que vive docemente com sua família disfuncional numa zona campestre. Numa Itália em plena transformação da paisagem e do modo de vida, este local será invadido por um programa televisivo que procura a família mais «pitoresca». Pelo meio, e como forma de ajudar financeiramente a família e a conseguir a mão de obra de mais um homem, o patriarca aceita cuidar de Martin, um alemão inserido num programa de reabilitação e reeducação, que quando chega ao vai transformar toda a existência da família.

Para Rohrwacher, esta é uma obra sobre «crescer, sobre a luta pela sobrevivência, sobre as transformações na paisagem italiana e também sobre abelhas».

Asia Argento, a incompreendida

Não concorre à Palma de Ouro, mas é um dos nomes a ter em consideração na aclamada secção Un Certain Regard. Incompresa, a primeira longa metragem assinada por Asia Argento desde The Heart Is Deceitful Above All Things (2004), foi escolhida para o certame e até já serviu para a provocante autora enviar algumas alfinetadas ao Ministério da Cultura Italiano. «O meu filme Incompresa foi executado sem o apoio do Ministério e não é de interesse cultural nacional. Obrigado», escreveu Argento no Twitter, indo mais longe nas acusações ao deixar no ar que esses fundos são sempre para os mesmos: «[Carlo] Verdone & companhia têm os fundos assegurados. Porquê?»

Igualmente com fortes elementos autobiográficos e livremente inspirado num filme de 1967 de Luigi Comencini, a fita – cuja ação decorre em 1984 – tem como protagonista uma menina de 9 anos, Giulia Salerno [que já trabalhou com Paolo Virzi e Ferzan Ozpetek ), que quer ser amada pelos pais (Gabriel Garko e Charlotte Gainsbourg).

«É a história da descoberta do mundo por parte de uma menina que vive a separação dos pais (…) que são egoístas mas engraçados», adianta Argento. A atriz e realizadora – que ainda recentemente vimos nos cinemas em Cadências Obstinadas – agradeceu ao certame a escolha da sua obra, acrescentando ainda que «graças a Cannes este tipo de cinema tem a oportunidade de ser visto e exportado». Já sobre o título – A Incompreendida – Argento acredita ser «a definição perfeita da infância» pois evoca aquele sentimento de injustiça, de mal-entendido, de não ser ouvido. «O adulto não vê os filhos», conclui.

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