Sábado, 18 Maio

«The Lego Movie» (O Filme Lego) por Hugo Gomes

As peças de construção mais famosas do Mundo (e após 60 anos de existência continuam como um dos produtos de entretenimento mais vendidos globalmente), Lego, têm a sua aparição cinematográfica. Há um ano atrás, a notícia sobre a produção deste filme fazia temer o pior: uma Hollywood oportunista e sem criatividade e termos de produto. Bem, é melhor não falar desses pensamentos (basta revisitar outras linhas de brinquedos convertidas a filmes como Transformers e Batalha Naval para ter uma noção do “terror”). Contudo, após a visualização desta obra pode-se conferir que O Filme Lego é um “craque” entre os filmes baseados em brinquedos, talvez o melhor produzido até à data, uma panóplia colorida de humor simples, por vezes astuto e outras vezes através de gags físicos tecnicamente eficazes. É um entretenimento aconselhável para todas as idades, e nesse aspeto a nova obra de Phil Lord e Christopher Miller (a mesma dupla de Gru, O Maldisposto) é um trunfo.

Mas o que mais me surpreendeu não foi a versatilidade do filme para as audiências, mas sim a sua auto-crítica, a forma como satiriza o seu próprio produto. O Filme Lego é assim um epigrama sobre o estereótipo e a homogeneização social e quotidiana, focando na manipulação dos Media até à implementação de um “correto” estilo de vida (que filmes e músicas temos que obrigatoriamente gostar para sermos aceites na sociedade). Em termos mais metafóricos, o filme toca na falta de personalidade e senso livre que se vive em diversas cidades e outras comunidades cosmopolitas. E nada melhor que representar esses “venenos” sociais através dos bonecos Lego, figuras amareladas, replicadas, e fáceis de disfarçar pelos estereótipos sociais, étnicos, religiosos e profissionais. Obviamente toda esta mensagem, que é fortemente acentuada no início com uma sociedade fiel ao seu livro de instruções, é ligeiramente encaixada no subliminar da intriga e despida de qualquer acidez. Não existe aqui qualquer sinal de Tyler Durden e das suas anárquicas iniciativas.

Em suma: um misto de animação (não recomendado a epiléticos) com a ação real (a inserção destas sequências foi como uma espécie de cereja no topo do bolo em termos narrativos) que nos encoraja para o divertimento, para as referências e nalguns casos para despertar a criança em nós. O Filme Lego é assim uma proposta sedutora do cinema familiar e definitivamente a melhor interação entre uma linha de brinquedo e a Sétima Arte.


Hugo Gomes

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