Uma premissa mirabolante que gera um novo conforto para quem se queixava de falta de ideias originais. Eis finalmente um filme capaz de apresentar algo de novo e levar até ao limite lógico esta apresentação, numa resolução que acaba por não trair o que vem antes.
Colossal acaba no fundo por ser um “2 em 1”: um filme de monstros que é uma comédia (falsamente romântica) sobre as atribulações de uma alcoólica que descobre estar a “controlar” um monstro que ameaça Seul. Ela é Anne Hathaway (num retorno à forma exposta em O Casamento de Rachel, e com a coincidência de papéis a acentuar esse facto). Mas ao contrário dos produtos “2 em 1” tradicionais, o filme de Nacho Vigalondo consegue até subverter e expôr o melhor dos dois mundos (embora favoreça sempre mais a comédia do absurdo, com um rácio de tiradas certeiras invejável); para tal, basta que o espectador esteja minimamente disposto a entrar na toca de coelho aqui cavada.
O autor espanhol continua aqui a sua odisseia de culto pelo cinema de género, e Colossal beneficia ainda de um outro factor capaz de o segurar nas altitudes a que está disposto a subir: cumprindo a tradição do cinema dito de “género” ter também um papel social em prol das minorias, o filme pode também ser lido como um testamento feminista. E numa época onde todos querem ser vistos como feministas, mas caem facilmente num panfletismo puro, a metáfora construída por Vigalondo encontra um equilíbrio praticamente perfeito entre o panfleto e a relativa (e também falsa) inofensividade.
Dito isto, repita-se: há que estar disposto a ser levado por esta maravilha que faria certamente os “fundadores” do cinema enquanto entretenimento sorrir. O risco tomado aqui é de tal forma alto que onde uns podem ver a sua resolução como obedecendo plenamente à sua lógica interna, concluindo assim o entretenimento-pipoca mais inteligente da temporada, outros podem achar tudo isto demasiado arrojado para não evitar o disparate [1]. De qualquer das formas, ninguém conseguirá refutar o óbvio: a originalidade desta visão de Vigalondo; está mesmo na altura de dar uma atenção mediática maior a este senhor.
André Gonçalves