O nome Karim Aïnouz é sinónimo de iluminado, nomeadamente na sua terra natal e na comunidade “queer” mais atenta e cinéfila. Foi com o icónico Madame Satã que o realizador chegou a esta praia lusitana, e daí a expectativa ser demasiado grande para ter tornado este Praia do Futuro filme de abertura desta 19ª edição do Queer Lisboa.

Konrad perde o seu amigo no mar na Praia do título, e é confortado pelo nadador-salvador Donato. Pelo meio há Ayrton, irmão e fonte de orgulho de Donato, que parece desejar uma “praia sem mar”. À medida que Donato se vai apaixonando por Konrad, vê-se num dilema de ficar no Brasil ou seguir para Alemanha e abandonar a sua família. 

Presente nesta sessão, o realizador fez questão de salientar que quis fazer um filme que tratasse acima de tudo de movimentos, mimicando a sua própria história de migração. Pois nisso sucedeu em pleno: Praia do Futuro está cheio de movimentos: literais (geográficos) e emocionais, sobretudo em consequência dos primeiros.  Dividido em três grandes capítulos, cada um com um sabor específico, é um filme composto pequenos fragmentos preciosos, ora uma história de amor romântico, ora uma história de amor fraternal… mas é uma fragmentação que funciona tanto a favor como contra, em última instãncia.

Se por um lado, é de salutar uma vontade rebelde e verdadeiramente “queer” de cortar com todos os lugares comuns do cinema – e sobretudo do cinema “boy meets boy” (não é por acaso que o realizador abre com Suicide e termina com David Bowie, dois icones de rebeldia e experimentação da história pop/rock) , por outro estes cortes com o fundo de ecrã (ex: a restante família do protagonista) revelam-se quase fatais, ao não trazerem gravidade necessária para o terceiro e derradeiro capítulo, onde tudo chega a um fim. Seriam precisas três horas – ou seis, segundo Miguel Gomes – para arrancar daqui toda a catarse, é certo. 

Além disso, a sua paciência em contar (e acabar) esta viagem em três tempos pode por vezes testar a paciência do espectador que estava em busca de respostas mais imediatas. Perde esse espectador, pois claro – Praia do Futuro não tem o mar mais fácil de navegar, mas merece ainda assim uma visita tanto pela beleza das suas imagens como pela sua “queerness” mais pura e honesta para quem a visita desde a primeira cena.