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«Goddess of Love» por Roni Nunes

Terceira obra de Jon Knautz (Jack Brooks:The Monster Slayer, Shrine), inicialmente construída como um drama de contornos eróticos até degenerar em alucinações e violência. Venus (Alexis Kendra) é uma stripper que já foi bailarina; para já contenta-se em ingerir litros de álcool, usar drogas e fazer algumas bizarrices solitárias, como deitar nua coberta de tinta sobre o papel. As coisas começam a mudar quando conhece Brian (Woody Naismith). Ela fica realmente contente e torna-se uma namorada dedicada – revelando dotes na cama e na cozinha. Mas isso não parece ser suficiente para o sorumbático Brian, assombrado pelo suicídio da esposa; quando surgem os indícios de que as coisas não estão a correr bem, o mundo mental dela começa a desabar.

Há virtuosismos estilísticos (a cena da montanha sobre o espelho retrovisor do carro), movimentos mirabolantes (a perseguição de carro com a câmara rente ao chão), uma edição de microframes (para as bebedeiras e as situações de desespero), utilização agressiva dos sons (a guitarra do vizinho) e um design visual ao serviço da representação do estranho universo da protagonista. Este aspeto é apreendido por Brian que, quando entra pela primeira vez na casa dela, afirma “estar a entrar em outro mundo“.

Knautz aposta na longa trajetória das psychotic women, dinamizando uma linhagem que começou nos anos 40 (com direito a epígrafes literárias a Val Lewton), segue através de Repulsa, de Roman Polanski, e tem em Atração Fatal um dos seus histéricos episódios. Mas Goddess of Love gravita longe dos excessos deste último, indo buscar em Polanksi a ideia da representação material do processo de desestabilização mental. Os dois últimos terços são ágeis e terminam num twist credível.

Certamente a estrela Alexis Kendra é parte da graça: bonita, sensual e expressiva, tanto no amor quanto no ódio. Dadas as vezes que aparece com pouca roupa (ou nenhuma), poderia se supor um auspicioso retorno ao mundo politicamente incorreto das exploitations dos anos 70. Nada disto: foi a própria atriz quem coescreveu e coproduziu o filme.

O MELHOR: é ágil, sensual e violento
O PIOR: o primeiro terço algo indeciso


Roni Nunes