Quinta-feira, 28 Março

«Christmas, Again» por Roni Nunes

Obra que poderia levar o subtítulo de “As Aventuras Nada Extraordinárias de um Vendedor de Árvores de Natal”. Mas, como muito bom cinema por aí já demonstrou, é precisamente no pouco espetacular que podem se dar os verdadeiros achados. 

O filme de Charles Poekel, como o título indica, é construído em torno dos conceitos de permanência e transformação, caracterizado pela utilização extensiva de marcadores temporais para situar o processo. De um lado há um caráter de repetição que marca toda a vida do protagonista (Noel, vivido por Kentucker Audley), reforçada com recursos diversos (os rebuçados do calendário, por exemplo) e uma noção de transformação presente no próprio conceito de Natal.

Entre estes dois pólos, o cineasta dança com um filme que tenta adicionar doses de despretensão à uma proposta séria de um realizador estreante. Por outras palavras, há um esforço evidente em não deixar o filme fugir-lhe da mão que por vezes ameaça estrangular o livre fluxo da sua história.

Entre os pequenos incidentes da aventura quase tediosa de Noel, é óbvio que só uma lady pode dar vida ao personagem (e ao filme) – e esta demora séculos a aparecer (Hannah Gross) – como se Poetzel quisesse protelar o inevitável. Entre alguma monotonia e a fidelidade de intenções, dá-se um passo à frente já perto do final, na bela sequência da entrega das árvores – onde Noel visita os modos diversos da vida americana (e ocidental) na noite natalícia. Os recursos do asilo e da “flor da transformação” são preciosos e que o realizador aproveita não sem alguma inépcia. Mas, no todo, é um bom começo.

O melhor: o terço final, com momentos de poesia
O pior: o tédio do protagonista por vezes confunde-se com o do espectador 


Roni Nunes

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