Sábado, 20 Abril

«Ming of Harlem: Twenty One Storeys in the Air» por João Miranda

Alguém resolve adoptar e manter um tigre num apartamento de cinco divisões no quinto andar de um prédio no meio do Harlem, Nova Iorque. Se isto não é a base de um filme interessante, não sei o que poderá ser. Ainda assim, Phillip Warnell consegue transformar o que poderia ser um documentário relativamente clássico, mas com interesse, num filme pretensioso e com muitos problemas de estrutura.

As primeiras cenas são a negro e ouvimos a troca de rádio entre as equipas no terreno e a central: há um tigre dentro de um apartamento e precisam de ajuda para o retirarem daí. Depois disso, acompanhamos Antoine Yates, o dono do dito tigre, a ser guiado pelo Harlem enquanto vai contando parcialmente a sua história e interagindo com as pessoas na rua. Alguns minutos depois vem cerca de meia-hora de um tigre (não Ming) dentro do que parece ser um apartamento (não o original) acompanhado ou dos rugidos do animal ou de um poema de Jean-Luc Nancy (igualmente compreensíveis). O filme ainda volta a Antoine pelas ruas e ao tigre, mas a essa altura já mostrou que não tem disciplina suficiente para nos contar os eventos que lhe deram origem nem de nos revelar nada verdadeiramente surpreendente ou profundo sobre a natureza do animal. Mais, saber que tudo se trata de uma encenação para o filme torna ainda mais incompreensível toda essa seção central.

Quanto a Antoine Yates e Ming, uma leitura breve na Wikipedia explica mais e melhor o que se passou. Já Nancy, este não será o seu melhor trabalho, não me parecendo, pessoalmente, que a poesia seja o seu forte. Se Warnell fez algo bem, foi conseguir entrevistar Yates e deixá-lo falar, descobrindo alguém que consegue verbalizar a sua experiência de forma interessante, sem nunca assumir uma posição de julgamento. A sanidade de Yates, que vai sendo posta em causa por vários intervenientes ao longo do filme, não é algo em questão para o realizador, deixando para o público tomar essa decisão se sentir essa necessidade. A questão será se, com o filme que foi apresentado, alguém o poderá fazer.

O Melhor: Antoine Yates.
O Pior: O poema de Nancy; a estrutura.


João Miranda

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