Sexta-feira, 29 Março

«Uma Rapariga da Sua Idade» por João Miranda

A juventude pode ser complicada: saídos do período de graça que foi a infância e apanhados nas exigências da vida adulta, sempre seduzidos pelo hedonismo inconsciente e pelas ideias que nos são vendidas de forma constante pelos filmes, anúncios e música, há muitos que se sentem perdidos e sem pontos de referência que possam utilizar para a navegar. Em Uma Rapariga da Sua Idade acompanhamos Mariana que, vinda de Viana, tenta fazer a sua vida em Lisboa, rodeada de amigos e de forma relativamente apática e indiferente ao que se passa à sua volta. Quando a crise se começa a sentir em Portugal, Alex, o seu parceiro, vê-se obrigado a emigrar e Mariana acaba por sentir a sua presença em Lisboa como um peso, um exílio com o qual não consegue lidar e acaba por voltar para Viana.

A primeira longa-metragem de Márcio Laranjeira, Uma Rapariga da Sua Idade, é um filme que tem vários problemas. Há uma certa preguiça na forma como são contadas partes da narrativa e um excesso de planos desnecessários que quase parecem indicar uma vontade de fazer uma longa baseada em material suficiente apenas para uma curta. As personagens parecem incompletas e acabam por ser pouco empáticas, com grandes discursos que mais parecem vir diretos de quem escreveu o script do que delas. Há também um problema grave estrutural: se, mesmo fraca, a narrativa é o que guia a primeira metade do filme, quando chegamos a Viana este transforma-se numa publicidade institucional sobre esta cidade. As cenas vão-se seguindo umas às outras e a qualquer momento espera-se uma daquelas frases como “A Câmara Municipal de Viana convida!” ou uma outra asnice publicitária.

Outro dos pontos mais fracos do filme são as suas interpretações: tanto a protagonista como os seus amigos são incapazes de mostrar naturalismo e, ela mais do que os outros (mas também porque aparece em quase todas as cenas do filme), está sempre com uma cara de miséria que algumas pessoas associam a mistério ou profundidade, mas que outras ligam a obstipação ou a crises renais. Este seria um ponto menor se as personagens fossem mais empáticas e se não agissem todos de uma forma tão arrogante e sentenciosa.

Se há algo que Uma Rapariga da Sua Idade faz, é mostrar o potencial do realizador. Esperamos pelos seus filmes futuros.

O Melhor: Algumas cenas; a fotografia.
O Pior: Interpretações; estrutura; os discursos; a preguiça na narrativa.


João Miranda 

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