Sexta-feira, 29 Março

«Koza» por Roni Nunes

O formalismo das escolas do Leste europeu vai se transformando num cliché de festival de cinema. Uma vez que praticamente tudo o que chega através deste circuito (o único disponível para o espetador ocidental) bate na mesma tecla, é de se perguntar se existirão por lá elementos dinamizadores – como no caso do altamente versátil cinema asiático.

Por outras palavras, da Polónia à Rússia, da Hungria à Ucrânia, passando pelo Cazaquistão de Lições de Harmonia, estreado por cá no ano passado e com o qual este eslovaco Koza guarda vários pontos de interseção, só o cinema romeno, e não todo ele, parece propor alguma modificação na receita.

Nesta obra vêem-se contrapostas as grandes paisagens invernais da Europa Central, invariavelmente fotografada em planos fixos, com o drama do seu protagonista, um ex-vencedor da medalha olímpica no boxe reduzido à pobreza. Com um ponto de partida tipicamente singelo, ele parte em busca de dinheiro para satisfazer a esposa que pretende abortar, na medida em que o filme se transforma num road movie onde não faltam vilezas, figuras decadentes e um quadro de permanente desolação.

De derrota em derrota e da sua relação com o seu “empresário” rude e sem escrúpulos, o realizador Ivan Ostrochovsky extrai um retrato severo da Eslováquia – que parece, tal como os demais países do antigo bloco soviético nos seus cinemas locais, padecer de um descalabro moral após a entrada no mundo capitalista. Mas se, a dado momento, a trajetória de Koza torna-se monocórdica, é no seu treinador (vivido por Zvonko Lakcevic) que se dão as grandes transformações e os melhores momentos do filme. O plano final é o único elemento realmente desestabilizador embora o lugar-comum não impeça, de todo, do filme ter momentos (e principalmente imagens) bonitas.

O melhor: a qualidade das imagens, a personagem de Zvonko Lakcevic
O pior: ser pouco surpreendente


Roni Nunes

 

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