Quinta-feira, 28 Março

«Une Histoire Américaine» por Roni Nunes

Talvez fosse altura do ator Vincent Macaigne, coautor do argumento, começar a pensar em fazer um filme de terror ou uma space opera. É que já lá vai na sua carreira uma boa quantidade de títulos (2 automnes 3 hivers, A Rapariga do 14 de Julho, Tristesse Club) onde ele dá vida a personagens afetivamente incapazes, romanticamente desajustados e inferiorizados diante das mulheres.

Aqui ele encarna todas as condições do homem complexado por excelência ao compor um francês que vai viver em Nova Iorque para tentar convencer Barbara (Kate Moran), o grande amor da sua vida, a ficar com ele. A rejeição dela num primeiro momento é condescendente mas, na medida em que a sua imbecilidade começa a beirar o inacreditável, ela torna-se francamente hostil.

O realizador Armel Houstiou traz Nova Iorque como uma personagem, com o seu movimento, sua imensidão e os seus pubs, repletos de almas bêbadas e solitárias. É de um deles que emerge um furacão dinamizador do permanente lodo low profile de Vincent – uma carente mas esfuziante dinamarquesa (vivida pela atriz Sofie Rimestad) que será por um tempo o único conforto dele (e o melhor do filme). O naturalismo das relações funciona bem mas, uma vez que ninguém por aqui é Woody Allen, Houstiou começa a experimentar, a partir de uma certa altura, uma enorme dificuldade em não ser repetitivo.

E desta paixão obsessiva que ele retrata não se terá mais luzes – exceto aquela concedida pela visita da irmã do protagonista: sempre em busca de aceitação, ele pergunta a ela se é a “vergonha da família”. Mas nesta parte já se está no último terço e o realizador claramente não sabe o que fazer com o seu filme – deixando o seu protagonista simplesmente entregue à sua idolatria e o espectador ao tédio.

O melhor: o dinamismo da história na parte do filme onde a personagem de Sofie Rimestad está presente
O pior: repetitivo e com um último terço pobre de imaginação


Roni Nunes

 

 

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