Quinta-feira, 18 Abril

«Mar» por João Miranda

Depois de ter ganho o grande prémio na edição de 2012 do IndieLisboa com “De Jueves a Domingo“, Dominga Sotomayor volta a este festival com o seu novo filme. Ainda com o tema de férias, Mar mostra a relação de um casal de férias junto à costa argentina e do impacto da vinda da mãe de Martin, a quem chamam “Mar”. O título parece ser assim uma brincadeira entre a pessoa e a praia, mas, se o é, nunca se desenvolve nesse sentido.

Com contornos muito burgueses, o casal vê-se continuamente ameaçado por medos que os definem mais do que os limitam. Há aqui um cenário e uma desigualdade que poderia permitir um filme mais consciente a nível político, mas a realizadora fica-se por procurar enquadramentos não-ortodoxos, cujos significado e coerência não parecem nunca solidificar, e reduzir-se às superfícies das relações sem nunca conseguir rompê-las ou mostrá-las na sua complexidade.

Se há algo que caracteriza Mar é a sua falta de vitalidade, quer de quem nele participou, quer das imagens e da sua falta de iluminação ou de enquadramento, quer da sua história. No seu clímax, nada do que as personagens possam fazer nos poderá interessar mais do que o final do filme. Digo “clímax”, mas também isso não existe aqui. O final resume-se a um dissipar de personagens (porque a energia nunca lá esteve para se dissipar), sem grande definição ou sentido. A ideia que dá é que se trata de um “work in progress” e que a realizadora está a mostrar em festivais “rough cuts” para tentar perceber a reação do público. Se assim for, pelo material que foi apresentado, parece que ainda há um longo caminho a percorrer. Se não é esse o caso, este é um filme muito insuficiente baseado em duas ou três ideias mal amanhadas que se focavam mais na sua produção do que no resultado.

O Melhor: Algumas imagens, alguns momentos em que quase faz sentido.
O Pior: O resto das imagens, a falta de consciência política, a inconsistência simbólica.


João Miranda

 

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