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Before We Go: Antes de irmos, dançamos

Mors omni aetate communis est” transcreve muito do espírito de Before We Go (Antes de Irmos), um sempre emocionante e profundamente doloroso trabalho de Jorge Léon sobre a fragilidade humana, a morte e a arte.

É sobre um fundo negro e com a voz de Jacques Lacan que se inicia este projeto multidisciplinar inclassificável (diz no programa que é um documentário), o qual segue dois homens e uma mulher cujo fim da vida se aproxima e que encontram, entre improvisações e coreografias com três bailarinos (Benoît Lachambre, Meg Stuart e Simone Aughterlony), um último suspiro para as suas vidas enclausuradas em corpos com prazo de validade e vertiginosamente marcados pelo tempo.

Uma dança num tapete e um jogo de mãos entre a enferma e a sensacional Meg Stuart, para além de uma performance num elevador do tema The Mercy Seat, de Nick Cave – num enquadramento que poderia tão bem estar presente na celebração da vida que Roy Andersson nos entregou há uns anos (Du Levande/Tu, que vives) -, são dos momentos mais memoráveis desta ágil e genuína reflexão sobre a mortalidade, à qual não escapam igualmente os próprios bailarinos, que entram na pele de quem conduzem (ou são conduzidos?), percebendo também eles a brevidade da vida, em especial Lachambre, o qual é seropositivo e que convulsivamente esperneia no chão numa sequência absolutamente arrepiante.

Simbolismos como o do pombo, a janela coberta de papel transparente colorido, o fato e a dança da morte, penetram por aqui como uma instalação artística sem qualquer tom de academismo pedante, sendo assim toda esta experiência – que inclui ainda momentos de poesia, ópera e até um extrato de Rei Édipo (1967) de Pasolini – um dos mais invulgares e emocionantes relatos recentes do Memento mori.

E com essa certeza da morte, vem também um último fôlego de vida. Absolutamente memorável.