Depois da ingenuidade vinculada ao amor pelo cinema na “road trip” Os Colegas, Marcelo Galvão aposta, desta vez, num retrato da ausência dessa mesma inocência, aqui perdida porque o tempo assim o quis. Tal como o titulo refere, todo o filme é uma amarga despedida sob a ilusão de um doce adeus.

Baseado em factos verídicos, esta é a história de Almirante (Nelson Xavier), um idoso que certo dia acorda com uma nova energia, uma premonição de que os últimos momentos na Terra estão para vir. Com essa mesma energia, decide envergar por um conjunto de últimos atos, entre os quais fazer amor com a mulher da sua vida (Juliana Paes), a qual é 40 anos mais nova.

Os primeiros 15 minutos de película revelam uma força esquecida na História do Cinema. Nunca um filme foi tão fiel em abordar a decadência humana, esboçando em episódicas superações pessoais que resumem a ação e o conflito da narrativa. A liderar esse realismo, o ator Nelson Xavier é um pedestre credível, munido de uma força de acting verdadeiramente genial. Esse desempenho é subtil e reconfortante para com o espectador, como se o preparasse para uma derradeira redenção. Como alicerce da sua interpretação, Juliana Paes é invadida pela tal subtileza, numa prestação doce e sensualmente frígida (apesar de tudo). Os momentos em que partilham o ecrã revelam uma cumplicidade arrebatadora e inseparavelmente melancólica.

A realização de Marcelo Galvão frisa esse realismo comportamental, ao mesmo tempo que detém uma câmara receosa em encarar os seus atores frontalmente, como se isso transmitisse um atalho aos “braços” da morte. “O problema não é ser velho, mas sim o de ter sido jovem“, expressa Almirante, justificando a sua disfarçada saudade pelos tempos de juventude e salientando a sua vontade de vida, que se encontra de momento refém de um escasso prazo de validade. A demonstrar que é possível fazer um grande filme sob um protagonista da terceira idade, compondo a simplicidade e a conivência entre câmara e ator. Imperdível e jovial!

Pontuação Geral
Hugo Gomes
a-despedida-por-hugo-gomesO melhor- os primeiros 15 minutos, os atores e a simplicidade O pior - não existir mais filmes como estes