Quinta-feira, 25 Abril

«Noi e la Giulia» por Roni Nunes

Os italianos serão o povo que menos precisará de uma ajuda yankee para competir nas bilheteiras com comédias – modelo adotado um pouco por todo o lado e com um resultado particularmente desagradável no caso do cinema francês. Também é pela via da formatação que circula este Noi e a Giulia, que tem a parceria da Warner na produção. É o terceiro filme como realizador de um ator popular em Itália, Edoardo Leo.

Tal como em muitos filmes hollywoodianos, este trata de um grupo de três “falhados” que, no desespero para pôr um fim numa vida de infortúnios diversos, termina por ir parar ao campo onde tentam construir um empreendimento para exploração do agroturismo. Ao bando junta-se um ex-credor de um deles, que acaba por permanecer por lá. Mas as coisas complicam-se quando descobrem que, afinal, aquele terreno está em plena zona de atuação da máfia, que vai enviando “agentes” para exigir pagamento.

Embora sem abandonar totalmente o objetivo de contar uma história, o filme centra-se nas caricaturas e nas piadas que exploram a personalidade e as desgraças de cada um dos superpatetas. Há o que desmaia ao ver uma luta, outro racista e saudoso dos tempos de Mussolini, um que é um ex-comunista que ainda acredita na classe operária, etc. Existe ainda espaço para o carismático Carlo Buccirosso (Vito), que conseguia ter piada até num drama atmosférico como A Grande Beleza e que aqui faz de um mafioso que afinal não era bem o que se pensava.

Longe da genialidade do cinema cómico italiano, esta obra certamente facilita a vida do grande público ao exibir os estereótipos do costume, o que não a impede de ter algumas soluções inventivas (a do carro que dá título ao filme) e algumas cenas engraçadas – como aquela em que o revolucionário persegue um mafioso com uma foice e um martelo. Mas quando não é esquecido nem sequer um final sentimental, terrivelmente longo e onde a banda sonora consegue ser ainda mais irritante do que o foi no restante do filme, fica-se a desejar que não seja essa a via que os italianos escolham para o seu cinema comercial.

O melhor: algumas piadas e soluções inventivas
O pior: comédia formatada nos moldes hollywoodianos num país onde o cinema comercial não necessita deste recurso


Roni Nunes

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