Sexta-feira, 19 Abril

«Pos Eso» por João Miranda

 

Há uma geração de pessoas que cresceu com o terror que se fazia no final dos anos 70 e nos 80. Filmes como O Exorcista, Poltergeist ou Evil Dead marcaram com as suas imagens e a sua música de tal maneira que temos visto aparecer vários sucedâneos nos últimos anos que os referenciam (quando não copiam mesmo). Em Pos Eso essa admiração é assumida abertamente, sendo fácil reconhecer vários deles. Tantos, que até fica a ideia que se perderam muitos outros.

Partindo de um contexto que leva o estereótipo espanhol ao ainda mais ridículo, onde um matador e uma bailarina de flamenco se conhecem e casam (com direito a revistas cor-de-rosa, entrevistas e programas de televisão tão exagerados como os reais), o filme apresenta-nos ao seu filho Damien (outra referência*) que é tão mau, tão mau, que só pode estar possuído. As referências começam logo nas primeiras cenas, não com um filme de terror, mas com Indiana Jones, aqui na figura de um padre que é obrigado por um bispo sem qualquer escrúpulo a obter artefactos, não pelo seu valor religioso, mas material. Através de várias voltas, os personagens acabam todos por se encontrar e lutar contra o demónio que possui a criança.

Não é propriamente pela história que Pos Eso se destaca. À parte do contexto espanhol (que acaba, com as referências à cultura popular, por o tornar facilmente datável), não há aqui nada de verdadeiramente original (a criança possuída, a mãe preocupada, o padre que perde a fé, todos estes elementos já foram explorados até à exaustão) e não parece ser esse o objetivo do realizador. Este é um filme que pretende explorar de forma cómica e reverencial todos esses filmes de terror que é óbvio que o realizador adora. Mas não se pense que este é um filme sem dentes e para crianças: apesar de animado, a violência que é retratada é tão explícita que só mesmo o riso pode aliviar os sentimentos fortes que esta provoca. No final, a tentativa de originalidade acaba mesmo por ser o ponto mais fraco do filme, fazendo com que o final típico da vitória do Bem sobre o Mal fique completamente baralhado entre conceitos mal desenvolvidos de Fé, maternidade e moral.

Outro ponto que acaba por minar o filme é a utilização de uma técnica mista de animação: se o stop-motion é irrepreensível e perfeitamente credível, há um achatamento nas imagens criadas por computador que contrastam com o primeiro e acabam por chamar atenção ao próprio meio e à forma limitada como foi utilizado, o que não parece de todo ser o propósito do realizador. Não fossem estes dois pontos, este seria sem dúvida um daqueles potenciais filmes de culto. Como está, fica ainda mais leve e menos desenvolvido do que se poderia esperar de um filme de retalhos como este.

O Melhor: o humor; as várias referências.
O Pior: o final; a qualidade das diferentes técnicas de animação.


João Miranda

 

O Génio do Mal (The Omen)

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