Sexta-feira, 29 Março

«Anderswo» (Noutro Lugar) por Hugo Gomes

 

Vencedor do “Dialogue en Perspective“, no Festival de Berlim de 2014, Noutro Lugar centra-nos na história da jovem israelita Noa (Neta Riskin), uma estudante em Berlim que efetua um dicionário de palavras intraduzíveis como o seu projeto de mestrado. Porém, a Universidade não encontra nada de promissor neste trabalho, negando assim o seu financiamento. Insatisfeita com o rumo que a sua vida parece caminhar, visto que a relação com o seu namorado alemão já havia conhecido melhores dias, Noa regressa à sua terra natal, Israel, para reencontrar a sua família e provavelmente um sentido para tudo o que de momento vive.

Uma comédia dramática sobre costumes e choques culturais que se manifesta como uma muito subtil critica à superação do conflito da Segunda Guerra Mundial, prescrevendo o modo como duas nações o concretizaram. A obra de Esther Amrami expõe a atualidade de dois mundos, investidas em preconceitos, encaminhando-as para algo mais que somente caricaturas e para um pertinente cenário de disputa. De certa forma comparável com uma Gaiola Dourada israelita ou até um Namoro à Espanhola (Ocho Apellidos Vascos), Noutro Lugar incute ocasionalmente um tom irónico e ácido, uma atitude jubilante para o choque, mas é sobretudo um filme que se interliga pela sua mensagem, tentando “cobri-la” com a sua afeição familiar.

As interpretações fazem o resto, não ficando mal perante esta intriga resolvida por redenções e cedências, nomeadamente uma impagável e sarcástica Hana Laszlo, como mãe de Noa, e a própria, Neta Riskin, a liderar através da expressividade. Noutro Lugar resulta parcialmente num aliciante filme intimista e pessoal. Contudo, essa intimidade, ao contrário do dicionário de palavras intraduzíveis de Noa, pode ser traduzido para uma linguagem universal. Em Portugal até temos uma palavra ideal para tal: saudade.

O melhor – as interpretações e o tom sarcástico
O pior – não ficará na memória


Hugo Gomes

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