Sexta-feira, 19 Abril

«Pervert Park» por Jorge Pereira

Não é fácil de assistir a Pervert Park, documentário assinado por Frida e Lasse Barkfors, cineastas em estreia que escolheram os EUA para surpreender o espectador com a temática escolhida para o seu filme debutante.

Pervert Park deriva de uma alcunha injuriosa aplicada a um «bairro» em St. Petersburg, Flórida, local onde ex-condenados por crimes sexuais vivem em conjunto. Por crimes sexuais entenda-se que estamos a falar de pessoas que cometeram ilegalidades como violações, pedofilia ou a chamada solicitação através da internet. Como em muitos outros estados norte-americanos, os criminosos sexuais não estão autorizados a viver a menos de 1000 metros de locais frequentados por crianças, como escolas, paragens de autocarro, etc. Devido a isso, muitos vivem literalmente debaixo da ponte, nos bosques ou em parque de trailers, como neste, o Florida Justice Transitions.

É particularmente duro para o espectador (e ainda mais para as vítimas) ver os testemunhos destes «monstros», homens na sua maioria, mas também mulheres, todos cientes do que fizeram e apoiados localmente por um psicólogo que começou inicialmente por fazer terapia a vítimas de abuso e que entretanto mudou de alvo, pois como diz: «ninguém quer saber deles para nada». E embora saiba (e afirme) que não existe uma cura para este tipo de «doença», o terapeuta afirma que é fulcral uma necessidade dos mesmos entenderem o que são e afastarem-se o máximo de situações e locais que poderão levar a isso, quebrando igualmente um ciclo de violência sexual familiar, em muitos dos casos. No fundo, são apresentadas vidas para sempre alteradas e condenadas à ostracização, mas acima de tudo mostrando que quase todos estes criminosos foram outrora (em criança) as vítimas dos mesmos crimes, dando a triste sensação que este problema percorre várias gerações da mesma família e que pode até nem ter chegado ao fim com os seus casos.

Construído de forma simples, onde as entrevistas executadas são a sua maior valia, e evitando alguns tiques mais característicos dos registos documentais de índole mais televisiva, como a narração em off, Pervert Park é um filme muito mais interessante pelo tema (tabu) e pela forma como é (sem medos) abordado, do que pelas qualidades técnicas ou cinematográficas.


Jorge Pereira 

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