Sábado, 20 Abril

«Libertador» por Hugo Gomes

“¿Por qué no te callas?”, questionou de forma interruptiva e irada o rei Juan Carlos de Espanha ao ex-presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que criticava duramente ex-primeiro-ministro espanhol José María Aznar durante a XVII Conferência Ibero-Americana, realizada na cidade de Santiago do Chile, em Novembro de 2007. Este episódio que se tornou mediático na sociedade e até mesmo viral na cultura pop foi uma das inúmeras demonstrações das afiadas relações que existem entre Venezuela e Espanha. A verdade é que este antagonismo entre as duas nações já vem de longe, nos tempos em que o país de Chávez era uma mera colónia da Coroa Espanhola, assim como metade da América do Sul. A sua independência enquanto país republicano, assim como grande parte das ex-colónias espanholas, derivou do ativismo e persistência do herói venezuelano Simón Bolívar, tendo o cognome de Libertador.

Aristocrata, colono sonhador e, mais tarde, afrontador do próprio Rei de Espanha (segundo o filme), Bolivar é uma figura venerada por todo o povo sul-americano, um “George Washington” venezuelano como é abordado por muitos historiadores. Por isso é evidente que seja retratado como tal numa eventual cinebiografia. A árdua tarefa de uma conversação cinematográfica (aliás, uma das inúmeras) foi parar às mãos do realizador Alberto Arvelo, que lhe aufere um tratamento quase televisivo, mas visado por atributos de produção invejável.

Libertador é um filme que conjuga o lisonjear populista de uma figura histórica, dando-lhe contornos messiânicos e idealismos inquestionáveis, nem que para isso se faça o menos provável – aldrabar a própria História em prol de uma emoção do foro cinematográfico. Pois bem, para além de esquematicamente narrativo (grande problema de variadas biopics), o filme de Arvelo é de uma incoerência histórica, e tendo em conta o maniqueísmo diversas vezes invocado (ironicamente isto é um co-produção espanhola), nada disto funciona como uma afronta à monarquia espanhola, mas antes um atentado aos manuais (muito por culpa do argumentista Timothy J. Sexton, um dos homens por detrás de Os Filhos do Homem, de Alfonso Cuarón).

Quanto ao papel de Bolivar, o ator Edgar Ramirez foi quem teve a ingrata função de vestir a pele de tal personalidade, operando num desempenho automático o qual se sente algum constrangimento por parte da produção. Passemos adiante!

O melhor – Os valores de produção
O pior – a fidelidade histórica, a narrativa esquemática e ausência de força de Edgar Ramirez para protagonista.


Hugo Gomes

 

 

 

 

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