Terça-feira, 23 Abril

«International Tourism» por Jorge Pereira

Depois de Hinterland, Hearing the Shape of a Drum e L’Hypothèse du Mokélé-Mbembé, Marie Voignier, uma autora que se movimenta entre o documentário e as artes visuais, trouxe ao cinema International Tourism, um filme que explora as estórias e a história, as utopias e os factos em torno da Coreia do Norte, aqui um silencioso protagonista.

Em foco nesta obra de aproximadamente 47 minutos está a forma como o Estado Juche se vende aos turistas internacionais, tendendo a mostrar acima de tudo a sua alegada autosuficiencia, não só produtiva, fulcral principalmente depois da queda generalizada dos regimes comunistas mundiais nos anos 90, mas também cultural, onde se afasta das imposições da cultura ocidental, e politica (o distanciamento em relação aos termos de estado comunista ou socialista).

Para isso, Voignier leva-nos a museus, monumentos, feiras de entretenimento, estúdios de pintores, produtoras de cinema e até a uma fábrica, estando omnipresente em todos eles o acentuado culto da personalidade organizado em torno dos líderes do país ( Kim Il-sung, Kim Jong-il e Kim Jong-un), que vivem na mente local entre o estatuto de heróis dignos de mitos, lendas e romarias.

É fácil captar logo incoerências num regime que se diz colocar o povo em foco e a opção da cineasta em silenciar as guias turísticas soa a alegoria ao regime totalitário, mas ao colocar pequenas referências e relatos em texto ao que é exprimido pelas imagens através de intertitulos, num estilo quase cinema mudo, ficamos com uma visão da Coreia pelos olhos da cineasta, a nossa guia, e não o verdadeiro olhar que o regime juche tem de si, perdendo-se assim uma boa oportunidade de mostrar uma visão diferente daquilo que a imprensa ocidental nos transmite. Um bom exemplo desse maniqueísmo é o relato de uma pequena discussão que surgiu no museu das atrocidades entre um turista e a guia devido aos factos relatados sobre o massacre de Sinchon, que o qual Pablo Picasso imortalizou numa pintura em 1951. Seria mais interessante ver a situação não editada, do que nos contarem algo que aconteceu.

Ainda assim, este é um documentário importante com imagens poderosas que nos mostram um estado iludido e ilusionista.


Jorge Pereira 

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