Sábado, 20 Abril

«Musarañas» por Jorge Pereira

«My sister doesn’t ever go out. She’s not fit to receive visitors». Esta citação é de What Ever Happened To Baby Jane (1962), mas podia perfeitamente ser algo que ouviríamos em Musarañas, um thriller com elementos de horror psicológicos e físicos que acrescenta a atriz espanhola Macarena Gómez ao rol de interpretações memoráveis no que toca a personagens neuróticas e doentias no cinema. A sua resposta a certo ponto do filme quando a irmã lhe pergunta como foi o dia dela, «foi agitado», entra diretamente para o topo dos melhores momentos negros do cinema de género espanhol, deixando igualmente antever para os argumentistas e realizadores Juanfer Andrés e Esteban Roel – aqui sob a produção de Alex De La Iglesia – um futuro muito risonho.

Duas irmãs vivem uma recatada e sofrida vida numa Espanha em plenos anos 50. De um lado temos Montse (Gómez), a mais velha, que para além de sofrer de agorafobia é viciada em morfina que vai arranjando através de uma amiga para quem faz vestidos. Profundamente religiosa e abusiva na proteção à sua irmã (Nadia de Santiago), ambas vivem com a memória do pai (o inevitável Luis Tosar), o qual desapareceu há anos atrás durante a guerra. Porém, este vai aparecendo frequentemente a Montse em forma de alucinação, dando-nos pistas frequentes que esta personagem não está no seu melhor estado mental. Quando o vizinho de cima tem um acidente nas escadas e Montse o resgata e cuida dele, tudo vai mudar nas suas vidas, vindo à memória filmes como Misery e até Boxing Helena.

Carregado de gore e momentos narrativos muito pacientes frequentemente dilacerados por situações over the top à conta de Montse, Musarañas é mais uma demonstração de força do cinema de horror psicológico de nuestros hermanos, o qual tem explodido em qualidade na última década, principalmente porque soube muito bem acrescentar uma forte camada de drama às suas personagens e enredos misteriosos, nunca esquecendo o contexto histórico, religioso e muitos traumas da ditadura de Franco.

Tecnicamente irrepreensível na sua direção artística e na cinematografia, Musarañas é assim um filme verdadeiramente a não perder pelos amantes do cinema psicótico, mesmo que na verdade não traga nada de verdadeiramente inovador.

O Melhor: O balanceamento do drama e do terror com os momentos mais gore
O Pior: O twist final torna-se a certo ponto previsível 


Jorge Pereira

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