Sexta-feira, 29 Março

«The Japanese Dog» (Cainele Japonez) por Jorge Pereira

Não é a toa que Japonese Dog (Cainele Japonez) é o candidato romeno ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro na 87ª edição dos Oscares. O filme, de 2013, assinado pelo estreante Tudor Cristian Jurgiu, afasta-se de uma das tendências recentes da chamada nova vaga do cinema romeno e, à sua maneira, apresenta uma visão otimista e longe do tom sombrio e humor negro que caracterizaram grandes filmes recentes provenientes do território.

Costache perdeu quase tudo nos últimos tempos. A sua esposa, Maria, faleceu e quase tudo o que possuía foi arrastado pelas inundações que se abateram sobre a Roménia em 2010. Enquanto tenta recompor a sua vida, o que inclui uma potencial venda de terrenos que possui, Costache é visitado pelo seu filho, Ticu, o qual não vê há 20 anos e que entretanto se mudou para o Japão, país onde construiu família, a qual vai também consigo à terra que o viu nascer.

É na reconstrução e levantamento das ruínas da sua vida, quer físicas (provocadas pela cheia), quer emocionais (pelo afastamento do filho e morte da esposa), que o filme de Cristian Jurgiu caminha e revela a sua maior força.

Contrariamente ao pessimismo e dificuldades de reunião entre familiares afastados há muito tempo que caracteriza o cinema europeu, o cineasta dá uma mensagem adocicada de esperança sem nunca cair no pastiche sentimental que tenta manipular as emoções o espectador. Neste aspecto há que destacar não só a suave astúcia do guião, igualmente escrito pelo cineasta, em conjunto com Iona Antoci e Gabriel Gheorghe, mas também o trabalho do diretor de fotografia Andrei Butica, que em meia dúzia de cenas consegue nos levar até à ruralidade de uma personagem visivelmente marcada pelo descambar de tudo à sua volta (veja-se a curta cena do cemitério, por exemplo). Jurgiu, que realmente tem uma história para contar, não perde igualmente muito tempo no que toca a uma atitude contemplativa em relação às suas personagens, usando esse artificio de forma muito contida e com bom “timing”, nunca exagerando ou cansado o espectador com planos intermináveis que mostram uma sensação comum na interioridade: o isolamento e a solidão.

Porém, nada disto também seria possível se a liderar o elenco não estivesse um ator de peso, Victor Rebengiuc (Terça, Depois do Natal). Este incorpora em si as cicatrizes que a vida lhe vai deixando e, embora se mostre muito marcado pela fuga do filho há 20 anos atrás, não é de todo cego ou orgulhoso ao ponto de não perceber que esta é uma oportunidade única de reunião familiar, onde se inclui até um neto que parece lhe dar-lhe anos de vida e uma nova força de vontade.

O Melhor: O tom otimista sem cair no melodrama
O Pior: Nada em particular a apontar


Jorge Pereira

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