Sexta-feira, 19 Abril

«Domestic» por Jorge Pereira

Um cão, uma galinha, um coelho, um pombo, um gato e até um canário parecem ser os focos de todas as discussões, problemas, tristezas, mas também alegrias e reconciliações num grupo de pessoas que vive num edifício condenado à intrusão doméstica por estas espécies. Porém, haja consciência que o verdadeiro tema aqui não são os animais em si, mas as pessoas, as suas manias, feitios e interações (anti) sociais.

Sitaru opta aqui por estancar a câmara e deixar o espaço das habitações [apresentadas com um palco teatral] fluir com as suas personagens e diálogos extensos, bem mais prolongados do que seria de esperar, num filme que acima de tudo tenta funcionar como uma tragicomédia.

E pese embora existam momentos bem conseguidos, como a inicial da galinha ou a da gaiola que um pai tanto quer oferecer ao pombo do filho, sente-se que tudo vai longe de mais e que o cineasta esticou demasiado as situações e transformações, sem nunca aprofundar demasiado as personagens para além de meras figurinhas caricaturais.

Os diálogos, intermináveis nos vários sketches e atos apresentados, variam entre o real (problemas financeiros, quotidianos) e o surrealismo/irrealismo total (Jesus veio do futuro e se calhar o coelho também). Se isso é positivo porque nunca sabemos bem o que virá a seguir, também é verdade que tudo soa a algo mais fragmentado, o que torna o desinteresse por certas situações absurdas ainda maior.

Ainda assim, esta é uma obra com boas intenções, uma boa dinâmica e um humor particular, o qual não vem só das palavras, mas também das expressões dos atores, sendo particularmente fascinante que para captar isso nem sequer foi necessário fazer um único close up.

O Melhor: Um par de situações hilariantes
O Pior: Diálogos excessivamente longos e muitos deles desinteressantes


Jorge Pereira

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