Sábado, 20 Abril

«Hit 2 Pass» por João Miranda

Hit 2 Pass é um bicho estranho. Pretendendo ser um documentário sobre um destruction derby com o mesmo nome, o filme começa por ser a preparação para esse acontecimento mas, quando chega a ele, parece despistar-se com o resto dos carros e ir parar a um sítio completamente diferente. Com um estilo muito próprio (quase de fraternity, apesar de se passar no Canadá), a obra usa pequenos interlúdios cómicos (onde um pretenso produtor de cinema anuncia o formato de filme usado ou desespera por algo que nos escapa), imagens de jogos de computadores e várias câmeras, uma até num drone.

O problema do filme não está no seu tema ou no seu tom, mas na sua incongruência. Com pouco mais de uma hora, ocupa-se a primeira metade com piadas e a preparação do carro para a corrida mas, quando chega a ela, a edição proíbe-nos de perceber o que está a acontecer e muitas das imagens focam-se mais no que se passa à volta dela do que na corrida. O que não seria problemático se percebessemos qual o estado da corrida. Mas é depois que vem o descalabro total: planos da cidade em que ela se desenrola, uma entrevista longa sobre os aborígenes canadianos (tão interessante que podia ser uma curta, de mérito próprio) e de novo o uso de imagens de jogos de computador, desta vez sem qualquer sentido.

Na ambição de querer documentar a corrida e a comunidade onde esta se passa, Kurt Walker (aqui a realizar a sua primeira longa-metragem) constrói dois filmes distintos, não conseguindo completar nenhum ou colá-los um ao outro. Toda a boa vontade que pudéssemos ter em relação à forma despreocupada como começa a obra dissipa-se perante a simples incapacidade de fazer algo mais consistente.

O Melhor: A entrevista que aparece a meio do filme.
O Pior: A inconsistência de tom e de temas. 


João Miranda

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