Quinta-feira, 28 Março

«Mio Pang Fei» por João Miranda

A História da Arte é muitas vezes contada do ponto de vista ocidental. Se, por vezes, há movimentos de outras culturas que conseguem romper essa visão, normalmente são apropriados e ocidentalizados. Não se pode dizer que haja uma consciência e uma intenção de o fazer, mas as regras do mercado e a homogeneidade cultural acabam por provocá-lo.

Mio Pang Fei é um caso curioso. Artista plástico nascido em Shangai, o seu fascínio com a Arte Ocidental faz com que tenha alguns problemas políticos e que vá procurar em Macau um refúgio. Livre de explorar o que quis, Mio Pang Fei começou a fazer o contrário do comum: em vez de utilizar técnicas tradicionais e “estranhas” à Arte Ocidental, adaptando-as a temas ocidentais, pega nas ferramentas desta, junta-lhe algumas técnicas locais e aplica-as a temas orientais. O resultado foi a criação de um novo movimento artístico: o Neo-Orientalismo.

Com uma fotografia cuidada, os planos das cidades e dos locais visitados tornam-se um bom complemento aos quadros que vão sendo apresentados, acompanhando as vozes que nos explicam a história do artista e a forma como o seu trabalho se insere na Arte. A música também é um dos pontos fortes do filme, não se tornando nunca invasiva ou desagradável, sublinhando as emoções das imagens de forma ligeira e não marcada.

Num momento em que a produção nacional de documentários prefere calar e tentar mostrar os seus temas mais apoiados na relação entre as imagens do que na palavra, Mio Pang Fei é um documentário de formato clássico que nos mostra a importância da palavra e da entrevista para conseguir aumentar a complexidade dos temas e até de os conseguir retratar condignamente. É refrescante sair de uma sala de cinema com a ideia que se aprendeu algo e com vontade de descobrir mais. Este filme consegue fazê-lo.

O Melhor: A fotografia.
O Pior: Há repetições de quadros e música que poderiam ser evitadas.


João Miranda

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