Pelo vistos a temática de As Cidades e as Trocas era de construir um registo silencioso da transformação social e arquitetónica que tem como base a globalização e a exploração empresarial, utilizando como amostra de ensaio uma pequena região de Cabo Verde.

Porém nesta obra cooperativa entre os documentaristas Luísa Homem e Pedro Pinho – este último até responsável há dois anos por um dos mais interessantes filmes portugueses do nosso tempo, Um Fim de Mundo – o que supostamente seria uma tarefa simples para qualquer académico saído da universidade, é convertido num extenso registo cuja objetividade é pretensiosa e, simultaneamente, vaga demais. Se uma narrativa visual de um documentário como este equivalesse a uma linguagem e se As Cidades e as Trocas falasse, o resultado seria um jeito demasiado divagado e recorrente a pormenores fúteis de uma inutilidade exagerada, quase como uma transcrição do louco da Auto da Barca do Inferno de Gil Vicente, porém sem paraíso à vista.

Pois bem, a dita viagem silenciosa é descrita como um anexo de filmagens sem o uso necessário de edição nem sequer de seleção. Homem e Pinho enfrentam o espectador com vários planos inúteis como, por exemplo, uma sequência demorada em que é focada a transmissão de um filme numa velha televisão ou os inúmeros showcases musicais, integrais e quase aleatórios, que pouca emoção transferem às mesmas imagens. Tudo evidencia um medo enorme em editar, em construir um fio condutor narrativamente visual. É como os seus envolvidos tivessem medo ou simplesmente estima em “dispensar” conteúdo filmado.

Uma das características que revelam um grande realizador encontra-se na montagem, na escolha do material e a disposição desta, e é essa mesma edição que funciona como o idioma do filme, a comunicação com o espectador. Visto o documentário ser dos géneros mais criativos do Cinema, é esse “dialeto” que se deve manter. Para dizer a verdade, As Cidades e as Trocas reunia excelente material filmado, só faltava mesmo a direção deste … e assim a mensagem ficou dispersada no oblívio. Um pretensioso desperdício de duas horas e tal!

Pontuação Geral
Hugo Gomes
João Miranda
as-cidades-e-as-trocas-por-hugo-gomesO melhor - a qualidade de algumas imagens O pior - o tratamento que estas mesmas imagens levaram