Sábado, 20 Abril

«Maidan» (A Praça) por Jorge Pereira

Depois de se ter aventurado no reino das longas metragens de ficção com A Minha Alegria (2010) e No Nevoeiro (2012), e de ter filmado algumas curtas documentais, Sergei Loznitsa regressa aos cinemas com A Praça (Maidan), um retrato formal, rígido e estéril de contexto, que abdica de qualquer tipo de narração ou foco em pessoas e grupos em particular, sobre a evolução dos eventos que conduziram à destituição do presidente Viktor Yanukovych do comando da Ucrânia.

Tal como avisa nos créditos iniciais, o foco do cineasta – e a base da revolução – é a praça de Maidan (Praça da Independência, em Kiev), local onde começaram os protestos contra o recuo presidencial de integrar o país na União Europeia. Regressando às raízes do cinema documental e dando-nos um exemplo puro do cinema vérité, Loznitsa coloca a sua câmara de forma estática e firme e vai captando a essência do que se vai passando, isto de dezembro de 2013 até fevereiro de 2014, altura em que Yanukovych fugiu do território. Convém realçar que não é o cineasta que molda a narrativa, mas os eventos em si; ele está lá para captar as imagens da revolução, sem nunca realmente fazer parte dela, embora seja inevitável quando temos uma edição que a subjetividade esteja presente (basta lembrar como o filme começa, com o hino da Ucrânia – situação que volta a ser repetida mais à frente).

E é assim que durante 130 minutos o espectador vai acompanhando os eventos, desde os primeiros momentos em que tudo parece funcionar como uma espécie de «Festa do Avante», com diversas atividades (música, comícios, cerimónias religiosas e até cursos de «como fazer uma revolução»), até ao crescendo de violência quando o presidente decidiu acabar e limitar os protestos com novas leis repressivas e que culminaram com um cerco ao parlamento e violentos confrontos, dos quais resultaram diversos mortos e desaparecidos.

Apesar de existirem momentos muito fortes captados pela lente de Loznitsa (afinal de contas estamos a captar uma revolução), em especial na segunda metade do documentário, o formalismo da captação de imagens (apenas uma vez a câmara move-se, e devido ao lançamento de gás lacrimogéneo) leva a que em muitos momentos se perca demasiada coisa certamente mais importante e que está fora de campo. Vejam-se situações em que perto do conflito direto entre as duas partes, ficamos reduzidos no campo de visão à intensidade e caos dos mesmos. Ainda assim, e indubitavelmente, este é no seu todo um documento histórico para a posteridade, uma espécie manual de como se fez uma revolução e de como a camaradagem e entreajuda entre a população levou à destituição de Yanukovych, uma figura aqui retratada de forma unilateral e, como tal, unidimensional. Pena não haver um documento como este Maidan que mostre o outro lado do conflito.

O Melhor: Loznitsa filma a revolução mas não faz parte dela
O Pior: A rigidez formal traz diversas desvantagens


Jorge Pereira

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